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Principais
causas de mortalidade de homens negros são externas,
como homicídios; brancos morrem mais de doenças,
diz estudo
De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos
por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34; entre os negros,
aumentou de 52 para 61
A desigualdade racial brasileira, já bastante dissecada
a partir de indicadores de renda e escolaridade, pode também
ser constatada pelo padrão de mortalidade de cada grupo.
Entre os homens negros, a principal causa de mortalidade foram
as externas (homicídios, acidentes e outras razões
não-naturais). Entre os brancos, essas causas são
o terceiro item mais comum, atrás das doenças
do aparelho circulatório e das neoplasias (tumores).
Além de negros -somatório de pretos e pardos
no estudo- e brancos apresentarem padrão de mortalidade
diferente em 2005, estudo dos pesquisadores Marcelo Paixão
e Luiz Carvano, da UFRJ e do Laboratório de Análises
Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações
Raciais, mostra que, desde 99, cresce a desigualdade entre
os dois grupos quando se comparam as taxas de mortalidade
por homicídios, HIV, tuberculose e problemas no parto.
Em alguns casos, essa desigualdade cresceu porque houve melhoria
dos índices entre brancos e piora entre os negros.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com os homicídios.
De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens
brancos caiu de 36 para 34 mortes. No mesmo período,
a mesma taxa entre os homens negros aumentou de 52 para 61
por 100 mil.
O estudo mostra que esse padrão de aumento da desigualdade
aconteceu mesmo de 2003 para 2005. Nesse período, as
taxas em ambos os grupos caíram, mas a queda foi mais
intensa entre os brancos.
Ao trabalhar com os microdados do Sistema de Informações
sobre Mortalidade do DataSus, Paixão e Carvano mostram
ainda que, se é verdade que homicídios vitimam
mais os negros, também é verdade que os acidentes
de trânsito matam mais os brancos: a taxa entre pessoas
brancas em 2005 foi de 20,8 mortes por 100 mil habitantes.
Entre as negras, ficou em 17,1 por 100 mil.
Especificamente quando se analisa os atropelamentos, os dados
se invertem: 5,5 mortes por atropelamento por 100 mil habitantes,
ante 5,1 mortes por 100 mil entre os brancos.
No que diz respeito à mortalidade por HIV/Aids, os
pesquisadores identificaram que o único grupo em que
há redução de 1999 a 2005 é o
de homens brancos. Nos demais (homens negros e mulheres brancas
e negras), as taxas aumentaram.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que, entre
os negros, o percentual de mortes por causas mal definidas
-um indicador de maior precariedade no atendimento médico-
é muito maior. Entre mulheres, 15% das mortes em 2005
não foram definidas, percentual que cai para 8% entre
brancas.
Quando se compara a mortalidade por problemas no parto, novamente
é verificada melhoria na razão de mortalidade
das mulheres brancas, enquanto entre as negras as taxas pioram.
Razões
A dificuldade nesse tipo de pesquisa, comparando as causas
de morte entre negros e brancos no Brasil, é identificar
o quanto desse diferencial é causado pela discriminação
racial e o quanto é explicada por razões econômicas
ou sociais. Ou seja, como os indicadores de pobreza e escolaridade
são piores entre os negros, é de se esperar
que eles tenham pior acesso aos serviços de saúde.
Segundo Paixão, no caso dos homicídios, não
há dúvida de que há um componente racial.
"Nas demais causas de mortalidade, minha hipótese
é: se vivem de forma diferente, logo, morrerão
de forma diferente."
No estudo, os pesquisadores afirmam que as razões das
desigualdades precisam ser melhor estudadas: "Chamamos
a atenção para a existência de causas
de mortalidade que afetam de forma muito especial a população
negra, em muitos casos tendo sido verificados aumentos nas
desigualdades raciais em termos do número de afetados
ou das razões de mortalidade".
Antônio Gois
Folha de S.Paulo
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