BRASÍLIA
- Embalados pelas compras de fim de ano, os brasileiros estão
se endividando mais, a um custo maior. Em novembro, a concessão
de novos empréstimos para pessoas físicas aumentou
7,2%, alcançando R$ 34,9 bilhões. Com isso,
o estoque de crédito no País, sem incluir os
financiamentos rurais e habitacionais, subiu 3,7% em relação
a outubro, fechando o mês em R$ 112,5 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, esse crescimento se deu praticamente em todas as modalidades
de crédito, mas ele alerta que muitas pessoas ainda
estão optando por operações mais caras,
quando há outras mais baratas.
"Houve aumento do uso do cheque especial, que é
uma modalidade com custo elevado. O problema é que,
muitas vezes, pelo costume de usar essa linha que é
de fácil acesso, e pelo desconhecimento da existência
de outras mais em conta, os consumidores deixam de se beneficiar
de opções mais baratas", alertou Lopes.
Enquanto a taxa do cheque especial estava, no mês passado,
em 142% ao ano, alta de 0,9 ponto porcentual em relação
a outubro, no crédito pessoal, que manteve o custo
estável no mês, a taxa era quase a metade, 73,8%
ao ano. Já os juros dos empréstimos com desconto
no contracheque registraram média de 38,9% ao ano.
O crédito com desconto na folha de pagamento tem crescido
de forma significativa e alcançou, em novembro, o saldo
de R$ 11,725 bilhões. O total é 7,1% maior do
que os R$ 10,945 bilhões de outubro e 89% maior que
no início do ano. Mas o estoque de operações
no cheque especial também subiu 2,5% no período,
passando de R$ 10,726 bilhões, em outubro, para R$
10,994 bilhões, no mês passado. Já o crédito
pessoal pulou de R$ 41,353 bilhões para R$ 42,456 bilhões,
uma alta de 2,7%. "Todo fim de ano as pessoas usam mais
o cheque especial", afirmou Lopes.
No geral, a taxa média cobrada pelos bancos nas operações
com pessoas físicas cresceu apenas 0,2 ponto porcentual
no mês passado, atingindo 63,4% ao ano. Enquanto isso,
o spread (que mede a diferença entre o custo de captação
dos bancos e o valor fixado para os empréstimos) caiu
0,3 ponto porcentual, chegando a 45,6% ao ano em média.
Isso mostra que os bancos estão consumindo a gordura
que tinham acumulado, já que o custo de captação
está em alta, em função do aumento do
juro básico nos últimos meses.
Apesar de a elevação da taxa final ter sido
menor, Lopes acredita que ela tem sido suficiente para o momento
de retomada econômica. "Com o ritmo de expansão
do nível de atividade, o crédito estaria crescendo
muito mais", afirmou, rebatendo a alegação
de que a política monetária em vigor não
estaria surtindo efeito para conter a demanda.
Para as empresas, o volume de crédito ficou praticamente
estável em novembro. A alta verificada na demanda por
empréstimos de prazo mais curto para suprir problemas
de caixa e recomposição imediata de estoques
foi compensada pela queda em linhas externas. A taxa geral
de aplicação das operações com
pessoas jurídicas caiu 0,2 ponto porcentual em novembro,
passando de 31,1% ao ano, em outubro, para 30,9% no mês
passado.
SHEILA D'AMORIM
do jornal O Estado de S. Paulo
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