Mais
da metade das empresas privadas do Brasil investe em algum
tipo de projeto social. Entretanto, a educação,
apontada por especialistas como a base de qualquer processo
de desenvolvimento da sociedade, recebe recursos de apenas
11% das companhias.
Resultados obtidos por grandes empresas que escolheram a
área como foco de seus investimentos mostram que esse
é o caminho para benefícios de longo prazo.
"É como aquele velho ditado: é melhor
ensinar a pescar do que dar o peixe", diz Nathalie Beghin,
coordenadora-adjunta da pesquisa sobre os investimentos da
iniciativa privada no terceiro setor, feita pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria
com o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e
Empresas).
Os dados, de 2002, traçam um panorama inédito
e detalhado dos investimentos no terceiro setor e indicam
o aumento da atenção à educação.
A Fundação Bradesco, uma das mais antigas investidoras
nessa área, aplicou, no ano passado, R$ 128,9 milhões
em projetos educacionais. Para 2005, a estimativa é
que sejam investidos R$ 148,3 milhões.
Eliete Ferreira de Santana, 14, cursa a 7ª série
do ensino fundamental na última escola inaugurada pela
fundação, em Osasco (Grande São Paulo).
Filha de uma diarista que estudou até a 1ª série
do ensino fundamental, ela faz planos para a faculdade. "Quero
ser advogada, gosto das coisas certas. Todas as crianças
deveriam estar em uma escola como esta. Tem muitos vizinhos
meus que não estudam. Não têm vaga. Como
eles podem querer ser alguma coisa?"
Crescimento
O número de empresas privadas que investem
em educação tende a crescer, na opinião
de Fernando Rossetti, diretor-executivo do Gife. Ele diz que,
quando as ações sociais começaram a aparecer
de forma significativa, nos anos 90, os projetos buscavam
a garantia dos direitos das crianças e dos jovens -o
que contribuiu para a criação do ECA (Estatuto
da Criança e do Adolescente).
Hoje, esse cenário está mudando. "Trabalhar
com educação é uma forma segura de contribuir
para a superação das causas de muitos problemas
sociais brasileiros", afirma Rossetti.
A Embraer também tem a educação como
prioridade nos investimentos: são 14 projetos e cerca
de R$ 48 milhões aplicados desde a criação
do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa,
em 2000.
O principal projeto é o colégio Engenheiro
Juarez Wanderley, de ensino médio, localizado em São
José dos Campos (SP). Criado em 2002, formou neste
ano a primeira turma, com 198 alunos.
O colégio oferece atividades extracurriculares, como
oficinas de música e aulas de inglês, e tem carga
horária de nove horas (quatro a mais do que o normal).
Das 462 mil empresas que têm algum tipo de atuação
social, 19% têm como foco a educação,
de acordo com a pesquisa. Pouco mais de metade (54%) investe
em ações assistenciais, que respondem a necessidades
imediatas.
"A maioria das empresas ou patrocina projetos existentes
ou atende aos pedidos da comunidade e de entidades",
afirma Nathalie Beghin, do Ipea.
Cláudio de Moura Castro, ex-diretor da área
de educação do Banco Mundial e membro do conselho
das Faculdades Pitágoras, estima que o valor investido
em educação pelas médias e grandes empresas
brasileiras gire em torno de R$ 1 bilhão. Não
existe um levantamento específico de valores.
Auto-estima
A Coca-Cola, que investe R$ 41 milhões por
ano em 143 projetos sociais e ambientais, tem apenas um programa
voltado para a redução da evasão escolar.
O programa, realizado em parceria com escolas públicas,
prevê que alunos da 5ª à 8ª série
com grave risco de evasão atuem como monitores de estudo
de 75 alunos da 1ª à 4ª série igualmente
com dificuldades de aprendizado.
Atualmente são 33 escolas participantes em 14 municípios
de oito Estados brasileiros. "Eu não tenho mais
faltado às aulas e estou estudando mais", diz
Vagner Carvalho, 15, aluno repetente que monitora três
crianças com idades entre 7 e 8 anos.
"Nossas avaliações de resultados mostraram
que o método é eficaz, não apenas na
questão acadêmica como no convívio social
dessas crianças", afirma Maurício Bacelar,
gerente de relações institucionais da Cola-Cola
Brasil.
MAYRA STACHUK
do jornal Folha de S.Paulo |