Durante
a passagem de sete meses pela Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor), em 2001, Marcos Antônio
Nascimento da Silva, 21, decidiu que não queria mais
ser um jovem "terrível", como ele mesmo se
definia. Preso, não viu o nascimento da filha, nem
pôde acompanhar seus primeiros meses de vida. "Parei
para pensar em tudo o que tinha acontecido até ali
e decidi que queria mudar. Como não sabia o que fazer
quando saísse da Febem, pensei até em catar
papelão na rua para poder ter outra vida", afirma.
Não precisou: uma semana após a saída
da Febem, foi chamado para trabalhar na gráfica da
empresa de auditoria PriceWaterhouseCoopers. A companhia decidiu
dar uma chance ao jovem, pois ele foi indicado por funcionários
da companhia que participaram de uma iniciativa de inclusão
digital na Febem. O curso era oferecido em parceria entre
a Price, a Amcham (Câmara Americana de Comércio)
e o CDI (Comitê para Democratização da
Informática).
"Tive aulas durante dois meses e aproveitei ao máximo,
porque sabia que não teria mais contato com o computador
quando saísse da Febem", conta o jovem, que mora
no Capão Redondo, em São Paulo. Ele aprendeu
sobre diversos programas e afirma que o computador mexe com
a cabeça das pessoas. "Quando você usa a
máquina, esquece dos problemas, das coisas ruins. E
a cada novidade que descobre, quer aprender ainda mais."
O conhecimento era trocado entre os alunos fora das aulas.
Esse interesse também rendeu oportunidades a alguns
colegas de Marcos que trabalharam na Price, a empresa fez
contrato de um ano com jovens que se destacaram no projeto.
Depois do período, eles poderiam ter o contrato renovado
ou, caso não houvesse vagas, ser indicados para trabalhar
em outras organizações.
"Marcos foi o primeiro estagiário efetivado no
programa de inclusão social da empresa e é uma
prova do potencial das ações conduzidas em conjunto
pela iniciativa privada, instituições públicas
e organizações não governamentais",
afirma Wander Teles, sócio da Price.
Depois de um ano e quatro meses na gráfica, ele mudou
de departamento e hoje trabalha como auxiliar de escritório.
Passa metade do expediente trabalhando no micro e, na hora
do almoço, usa o horário livre para navegar
pela internet. "Gosto muito de computador e acho que
todo mundo deveria ter a chance de aprender a mexer com ele",
diz o jovem, que retomou os estudos quando saiu da instituição
e, no ano que vem, conclui o ensino médio.
JULIANA CARPANEZ
da Folha Online
|