Em reuniões separadas com
governadores, prefeitos e ministros do PT, no fim de semana,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que o
aperto orçamentário será mantido em 2004,
pediu o empenho de todos na aprovação das reformas
ainda neste ano e que os candidatos do partido a prefeito,
nas eleições do próximo ano, defendam
o governo.
"[O governo] é perfeitamente defensável",
disse Lula na reunião de sexta-feira à noite,
com governadores e prefeitos, segundo o relato de presentes.
Foram duas reuniões, ambas na Granja do Torto. A idéia
partiu do presidente nacional do PT, José Genoino,
e foi prontamente encampada por Lula. O objetivo: "distensionar"
as relações internas de um partido no qual governadores,
prefeitos e ministros estão insatisfeitos com a falta
de liberação de recursos.
No encontro de anteontem, que se estendeu por todo o dia
e reuniu todos os ministros do PT, o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) disse, segundo relato de Genoino, que "o
aperto orçamentário é inevitável"
também em 2004 para manter o equilíbrio fiscal,
a credibilidade e a confiança externas no país.
Mas previu um ano melhor em função do desempenho
da economia, que dá sinais de retomada do crescimento
industrial e do emprego, também de acordo com Genoino.
Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
disseram que os indicadores mostram uma retomada da atividade
econômica: a taxa de juros real é a menor dos
últimos oito anos e o risco-país está
abaixo de 600 pontos, o que é considerado um índice
relativamente baixo.
Uma projeção mais otimista, segundo o ministro,
dependeria da aprovação das reformas da Previdência
e tributária, em tramitação no Senado.
Lula, quando falou, disse que o "rumo está certo,
tivemos grandes vitórias" e pediu que o governo
mantivesse "esse pique", ainda segundo Genoino.
O presidente também considerou fundamental a aprovação
das duas reformas ainda neste ano e pediu o empenho dos ministros
no trabalho de convencimento dos congressistas aliados. Para
o presidente do PT, o governo dispõe de uma "maioria
apertada" no Senado para aprovar a reforma da Previdência,
que começa a ser votada amanhã.
Apelo dramático
O próprio Genoino disse que fará um
"apelo dramático" aos senadores petistas
Paulo Paim (RS) e Flávio Arns (PR), que manifestam
dúvidas sobre o projeto. Mas não tem muitas
expectativas em relação ao voto da senadora
Heloisa Helena (AL).
Lula pediu "humildade" aos petistas: "Temos
de negociar, mas sem abaixar a cabeça. Nós sabemos
aonde queremos chegar", teria dito o presidente.
Na avaliação do governo, a reforma da Previdência
tem tudo para ser votada nesta semana. A projeção
é mais pessimista em relação à
tributária: ela dificilmente ocorreria antes de 15
de dezembro. Por isso, os presidentes do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), abriram conversações sobre a possibilidade
de autoconvocação do Congresso.
Preliminarmente, Lula descartou debater a reforma ministerial
que deve fazer para
acomodar o PMDB no governo. É um assunto que ele só
pretende tratar após a aprovação das
reformas.
Na véspera, também no Torto, Lula, Palocci
e os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci
(Secretaria Geral da Presidência) reuniram-se com dois
governadores e os sete prefeitos de capital do PT, entre os
quais se encontravam Jorge Viana (AC), Wellington Dias (PI)
e a prefeita Marta Suplicy (SP). As duas reuniões foram
cercadas de sigilo.
Nessa reunião, Lula reconheceu que o governo teve dificuldades
em 2003 para liberar recursos, que foi um ano de "sacrifícios",
mas disse acreditar que em 2004, mesmo com as restrições
orçamentárias, o país voltará
a crescer.
Campanha federalizada
Na conversa, ficou implícito que todos esperam
pela "federalização" da campanha municipal
do próximo ano nas grandes capitais. Para Lula, o PT
não deve se abater com as críticas e reafirmar
que não se esqueceu de seus compromissos sociais.
O clima da reunião com governadores e prefeitos, na
noite de sexta, foi descrita por uma dos convidados como de
"confraternização de fim de ano e balanço".
A de sábado se estendeu das 9h30 às 19h30. No
almoço, Lula serviu feijão, arroz, torresmo
e salada. Ele também levou os ministros para conhecer
um criadouro de peixes construído no Torto.
Lá também ficou decidido que, após a
aprovação das reformas da Previdência
e tributária, o governo e o PT vão concentrar
suas energias nas reformas política e do Judiciário.
Ao decidir fazer a reunião com os ministros do PT,
Genoino procurou Lula para informá-lo. "Eu faço
questão de ir", teria respondido Lula. "Eu
vou convidar para uma conversa lá no Torto. Tem de
ser descontraído".
Raymundo Costa e Julianna Sofia,
da Folha de S.Paulo, em Brasília.
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