As temperaturas
mais baixas e a circulação antecipada de alguns
vírus da gripe estão levando a um aumento das
doenças respiratórias em crianças antes
mesmo da chegada oficial do inverno, segundo levantamento
parcial de prontos-socorros infantis.
O vírus influenza, maior causador de gripes em adultos,
também está atacando crianças menores
de dois anos, que, historicamente, sempre foram mais vitimadas
pelo vírus sincicial respiratório, responsável
por 80% dos casos de bronquiolites (inflamação
dos brônquios pulmonares), contra o qual não
há vacina.
Segundo o pediatra e infectologista Otávio Augusto
Cintra, médico assistente do Hospital das Clínicas
de Ribeirão Preto (SP), o vírus, que normalmente
circula no inverno, entre junho e julho, neste ano foi detectado
em abril e maio, associado a casos de pneumonia e bronquiolite.
"É notório o aumento de internações
em relação a anos anteriores", diz. Há
nove anos, a Faculdade de Medicina de Ribeirão faz
a vigilância epidemiológica dos vírus
que afetam o sistema respiratório.
Para o pediatra Joaquim Carlos Rodrigues, do Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas de São
Paulo, houve pico da incidência de pneumonia e de bronquiolite
nas últimas duas semanas, fato esperado para junho
e julho.
Tanto Rodrigues quanto Cintra crêem que o aumento das
doenças respiratórias esteja ligado à
queda de temperatura e à poluição atmosférica.
Além de deprimir a imunidade da mucosa respiratória,
essa situação, em conjunto com a aglomeração
de pessoas em lugares fechados, facilita a transmissão
dos vírus.
No Hospital Infantil Cândido Fontoura, zona leste de
São Paulo, o aumento temporão de gripe, resfriado
e bronquiolite vem sendo registrado desde março.
Naquele mês, dos 15,6 mil atendimentos de emergência
feitos no hospital, 70% foram de doenças respiratórias,
contra 11 mil em 2003. Em abril, a tendência prosseguiu:
foram 14 mil casos, contra 13.500 em 2003. "Todos os
anos triplica o atendimento a doenças respiratórias,
de março até o inverno. Mas neste ano as doenças
chegaram mais cedo", diz Valéria Clemente, diretora
do hospital.
A chegada antecipada do vírus influenza acontece em
todo o mundo e, relacionada à capacidade de mutação
do vírus, preocupa a sociedade médica internacional.
Feita com antecedência, a imunização é
eficaz apenas contra os subtipos que circularam com mais freqüência
no inverno anterior, mas não está preparada
para combater todas as mutações.
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
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