Cássia
Gisele Ribeiro
especial para o GD
"A atual geração tem o privilégio
de acompanhar uma das grandes mudanças de fase na existência
humana. No entanto, a escola não está acompanhando
essa mudança". A afirmação é
do sociólogo italiano Domenico De Masi, que chama de
nova fase o período pós-industrial, comandado
pela globalização e pelas novas tecnologias.
Segundo ele, esse é um dos motivos pelo qual as crianças
não conseguem mais se interessar pela escola. "John
Dewey dizia que a educação consiste em enriquecer
as coisas de sentido e significado. E isso, a escola não
proporciona, pois as crianças e jovens de hoje não
entendem mais o sentido desse modelo de produção
em série de ensino". Segundo o sociólogo,
essa nova era tem um impacto na sociedade semelhante ao momento
da descoberta da roda, do fogo, da escrita e da revolução
industrial.
"A situação em que a educação
se encontra hoje derruba o mito que a sociedade está
sempre em evolução", disse. De Masi conta
que, ao realizar uma pesquisa, analisou 30 livros sobre política
contemporânea e nenhum deles via a educação
como parte da discussão política. "No entanto
Platão, ao escrever A República, dedicou um
capítulo inteiro ao tema. A Grécia antiga cultivava
uma valorização tanto da estética quanto
do intelecto e devemos aprender que, conhecimento e qualidade
de vida, são o que impulsiona a vida".
O sociólogo fala sobre a importância de aprender
com os gregos a dar sentido a vida por meio da qualidade de
vida e da saúde e, ao mesmo tempo, do desenvolvimento
do intelecto. No período pós-industrial, o homem
tem a possibilidade de passar mais tempo cuidando de sua qualidade
de vida, já que as máquinas teriam a possibilidade
de otimizar o tempo de trabalho.
"No entanto, não é o que acontece e o
ser humano está cada vez trabalhando mais e com menos
tempo para pensar", diz. "Luxo não é
ter mais jóias, é ter mais tempo", brinca.
"É muito difícil ter um minuto de reflexão
quando o homem se fez escravo de telefones, celulares, internet",
afirma o sociólogo, famoso por pregar o ócio
criativo. De Mais ironiza quando, mais uma vez, compara a
sociedade pós-industrial com a sociedade da Grécia
antiga. "Os gregos acreditavam que desafiar os deuses
por meio da busca pelo conhecimento poderia ser digno de um
castigo. Hoje a falta de tempo seria considerada um castigo
dos deuses para a humanidade que se entregou à tecnologia".
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