Há um ano o estudante Célio
Gomes Pereira, de 22 anos, morador na Favela Heliópolis,
Zona Sul de São Paulo, dedica meia hora, uma vez por
semana, para matar a saudade da mãe e do irmão,
que estão na cidade pernambucana de Machado. A comunicação
entre eles, que antes se resumia a um telefonema rápido
por mês devido ao custo da ligação, ficou
mais fácil depois de a família ter descoberto
a internet em centros comunitários de informatização.
“A gente marca dia e hora e conversa, de graça,
por e-mail”, diz Pereira, que freqüenta um telecentro.
Na cidade de São Paulo existem
hoje 105 telecentros (municipais) e 72 infocentros (estaduais),
que começaram a ser instalados a partir de 2000 na
periferia. Pereira só não tem contato mais freqüente
com os parentes porque eles ainda precisam viajar 50 km para
utilizar a internet numa cidade vizinha. “Mas o telecentro
já facilitou muito nossa vida”, diz.
Além de permitir acesso à
informação digital a pessoas que, em muitos
casos, não sabiam sequer ligar um computador, os centros
de informatização têm ajudado muitos a
melhorar de vida. “Nossos usuários perdiam oportunidades
de inclusão social porque não sabiam fazer uma
busca na internet, não tinham acesso a vagas de emprego
ou mesmo a informações sobre saúde”,
diz Fernando Guarnieri, coordenador do Projeto Acessa São
Paulo, da Secretaria da Casa Civil.
Ele afirma que, apesar de já
ser possível fazer quase tudo pela internet, 80% da
população paulistana ainda vivem em completo
analfabetismo digital. “O número ainda é
muito pequeno. Precisaríamos ter pelo menos mil para
atender a população carente”, diz.
Segundo o coordenador do Acessa São
Paulo, dos 20% de paulistanos que têm acesso à
internet, 85% pertencem às classes A e B. “Na
periferia, 11% dos moradores já acessaram a internet
alguma vez, mas apenas 3% são usuários freqüentes”,
lamenta.
Vida nova
O usuário dos centros ganha e-mail, faz curso e pode
acessar a internet de graça pelo menos meia hora por
dia. “Ter e-mail me ajudou muito”, diz o estudante
David Pereira de Deus, de 16 anos. Ele veio do Piauí
há seis meses e já tinha alguma noção
de informática. Mas foi no telecentro de Heliópolis
que aprendeu a navegar na web.
Nos centros de informatização
da Capital estão cadastradas cerca de 700 mil pessoas
— 300 mil nos telecentros e 400 mil nos infocentros.
A maioria dos usuários, segundo Guarnieri, tem entre
15 e 24 anos, renda média de R$ 400 e cursa o ensino
fundamental.
Guarnieri afirma que 70% dos freqüentadores
vão aos centros em busca de e-mails para se comunicar
com parentes e amigos que geralmente estão em outros
estados. Depois, buscam acesso a pesquisas, notícias,
empregos, bate-papo, sites institucionais e jogos.
Segundo Beatriz Tibiriçá,
coordenadora do Governo Eletrônico, da Prefeitura, a
Zona Leste concentra o maior número de pessoas que
nunca teve acesso a um computador. São aproximadamente
3 milhões. “Na periferia, os telecentros funcionam
como qualificação profissional. Geralmente,
quem faz curso sempre volta para participar de oficinas ou
ser usuário, e traz a família.”
A estimativa da Prefeitura é
instalar pelo menos mais 23 telecentros até julho.
Já o Governo do estado pretende chegar aos 90 infocentros
na Capital até o final do ano.
Os telecentros e infocentros estão
instalados em áreas de maior exclusão social
da cidade, selecionadas de acordo com o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH).
Grande parte funciona com o apoio
da iniciativa privada e de instituições sociais.
Para baratear o custo das instalações, a Prefeitura
optou pelo software livre (que não paga licença
de uso e pode ser baixado pela internet). Eles permitem o
uso de computadores sem disco rígido, com configuração
básica. Por causa desse programa, que torna os equipamentos
sem valor comercial, o índice de roubos em telecentros
é muito pequeno. Desde 2001 foram apenas seis.
As informações são do Diário de
S. Paulo.
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