Numa cidade onde os carros mandam,
como São Paulo, o sonho de quem vive em bairros residenciais
é afastá-los das ruas e preservar o sossego.
Na Vila Paulista, ao lado do Parque do Ibirapuera, zona sul,
moradores foram além. Criaram o projeto Bairro Ambiental,
que prevê não só a instalação
de lombadas, mas de calçadas que atravessam as ruas,
criando passagens de nível para reduzir a velocidade
dos automóveis. A novidade, que ainda depende de autorização
oficial, pode estabelecer um padrão para todo o País.
Com 11 ruas e cerca de 250 casas, a Vila Paulista tem localização
estratégica. Serve de rota de escape para motoristas
presos em avenidas congestionadas, como a República
do Líbano e a Joaquim Antônio de Moura Andrade.
"A Vila Paulista está no miolo de uma área
privilegiada. O tráfego do entorno traz comércio
e guardadores de carros, tirando a tranqüilidade",
diz o arquiteto Sergio Reitzfeld, presidente da Associação
de Moradores e Amigos da Vila Paulista (Sovipa). Ele afirma
que a proposta é diferente dos bolsões criados
em bairros como Alto de Pinheiros e Butantã. "Nossa
intenção não é fechar o bairro,
é ordenar o trânsito."
O projeto do Bairro Ambiental foi feito com base no conceito
de traffic calming, criado nos anos 70. A primeira fase prevê
a construção de lombadas 15 metros depois das
esquinas nas ruas de acesso. Na etapa seguinte está
a proposta mais ambiciosa, a das "lombofaixas":
os cruzamentos terão o piso elevado e ficarão
na mesma altura da calçada. Com calçadas contínuas,
os carros terão de reduzir a velocidade e transpor
rampas nas esquinas. "Essa intervenção
beneficia o pedestre e inibe o motorista de andar rápido",
diz Reitzfeld. O engenheiro Maurício Sauhen, morador
da Rua Oliveira Pimentel, concorda. "Quem mora aqui não
corre, mas o motorista que quer fugir do trânsito, sim."
Para construir as lombofaixas, os moradores precisam obter
a aprovação do Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran), já que o Código de Trânsito
prevê só dois tipos de lombada. O comprimento
varia de 1,5 metro a 3,7 metros e a altura, de 0,08 a 0,1
metro. Mas nenhum dos dois pode ocupar toda a extensão
da rua.
As lombadas, aliás, ainda são o principal recurso
usado para controlar o tráfego em São Paulo.
A cidade tem cerca de 22 mil e só no ano passado a
Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) recebeu 1.184
pedidos para construção desses bloqueios.
O urbanista José Eduardo Lefèvre, professor
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo, diz que a construção das lombofaixas
melhora a segurança para quem caminha. "Como o
piso é elevado, é fácil enxergar o pedestre."
O vice-diretor do Departamento de Trânsito do Instituto
de Engenharia, Sérgio Costa, diz que mudanças
no tráfego são bem-vindas, mas exigem critério.
"As pessoas tendem a considerar sagrado o espaço
onde moram. É preciso ver que as ruas são as
artérias que fazem a cidade circular."
AMANDA ROMANELLI
do jornal O Estado de S. Paulo
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