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urbanismo
13/10/2004
Paraolímpicos competem nas ruas de SP

Mal o portão se abre e a ponta da bengala vermelha e branca cutuca a calçada. Braço esticado, ele sente um degrau de um metro de altura junto à casa vizinha. Num piscar de olhos, pula e já está no meio da rua. Sobe a íngreme ladeira em ritmo de atleta.

Medalha de ouro nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, no mês passado, o jogador de futebol Mizael Conrado, 26, é cego desde a adolescência. Aprendeu no esporte a superar obstáculos. Em São Paulo, a desviar dos mesmos -depois de tombos em placas e carros estacionados sobre a calçada.

Suas dificuldades na cidade começam quando ele põe o pé para fora de sua casa, um sobradinho no Jardim São Roberto (zona sudeste). Cada morador construiu um acesso próprio à sua garagem, transformando a calçada numa barreira quase intransponível, com degraus de mais de um metro de altura. "É uma montanha-russa. Sou obrigado a andar pelo meio da rua para não cair."

A caminhada de duas quadras até o ponto de ônibus reserva surpresas constantes, como bueiros destampados. O que lhe causa mais vergonha é cair sobre barracas de camelôs.

Camisa 10 da seleção de futebol de 5 (quatro cegos na linha e um goleiro que enxerga), Mizael faz academia e treina três vezes por semana com bola (com guizo interno). O esforço foi recompensado. Em Atenas, o Brasil venceu a arqui-rival Argentina nos pênaltis e sagrou-se campeão invicto. "O mais importante foi mostrar nosso potencial. Temos de associar as palavras deficiente e saúde", diz.

O dentista paulistano Joon Sok Seo exemplifica à perfeição o desejo de Mizael. Acometido pela poliomielite aos dois anos, ficou paralisado do pescoço para baixo.
Apesar das seqüelas nos braços e nas pernas, ele ganhou a prata na natação em Atenas, no revezamento 4 x 50 medley. Mas por pouco ele não ficou fora da
Paraolimpíada de Atenas. Três semanas antes das seletivas, caiu na escadaria de um restaurante, que só tinha banheiro em um dos pisos e degraus muito altos e curtos. "Luxei o ombro esquerdo. Só consegui a classificação porque tive uma recuperação relâmpago."

Obstáculos quase imperceptíveis para a maioria, as barreiras arquitetônicas estão por toda a cidade, dificultando a vida de Mizael, de Joon e de cerca de 1 milhão de paulistanos.

Com seus braços de nadador olímpico, Joon supera rampas íngremes sem ajuda quando usa cadeira de rodas. Se não fosse atleta, não entraria em seu prédio, já que a rampa excede muito a inclinação máxima recomendada de 12.

Contra o relógio
Joon, 37, sabe que em alguns anos perderá o físico de atleta. "É uma questão de tempo para que eu precise usar a cadeira de rodas o tempo todo. Será que até lá a cidade vai estar adaptada a mim?", questiona.


FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo

 
 
 

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