Veridiana Novaes
Pessoas afásicas, com deficiência de linguagem,
usam o teatro como um grande aliado para a recuperação
da fala. Desde o dia 27 de setembro, no Teatro Bibi Ferreira,
oito atores afásicos ou ex-afásicos têm
a oportunidade de participar da peça de teatro Reconstruindo
a Palavra. A iniciativa é da fonoaudióloga Fernanda
Papaterra Limongi, fundadora da organização
não-governamental (ONG)Ser em Cena, junto com o fonoaudiólogo
e ator Roberto Mello e o ator Nichollas Wahba.
Muitas vezes, as pessoas pensam que os afásicos têm
apenas um problema de voz. Porém, a afasia é
um déficit geral da linguagem decorrente de uma lesão
cerebral no hemisfério esquerdo do cérebro.
O indivíduo tem dificuldades de traduzir o que deseja
falar, igual a alguém que está em um país
onde não sabe falar a língua nativa. Normalmente,
a afasia deriva de acidentes vasculares cerebrais (AVC) ou
traumatismos cranianos causados por acidentes.
De acordo com Fernanda, o teatro é fundamental na
reabilitação das pessoas com afasia, porque
a arte dramática é totalmente ligada à
comunicação. ”Nas técnicas teatrais
há exercícios riquíssimos que propiciam
lembranças, associações cerebrais e estimulam
a capacidade de elaboração”.
Nicollas Wahba, além de ser um dos diretores da peça,
é também um afásico recuperado que sofreu
um traumatismo craniano em um acidente automobilístico,
há 16 anos. “Os médicos falaram que nunca
mais ia sair da cama. Sinto que é preciso uma vontade
interior muito grande, cada dia um passo. O apoio da família,
para mim, foi essencial”. Wahba ressalta que os integrantes
do grupo melhoraram muito desde o começo das aulas
há dois anos. “Alguns nem falavam. Hoje estão
apresentando uma peça para o público”.
O vendedor Milton de Oliveira sofreu AVC há cinco
anos e antes do episódio sabia todos os telefones de
seus clientes decorados. “De repente, não sabia
mais nada, nem meu RG. Hoje em dia quando o público
me aplaude, me sinto honrado”.
Essa é a primeira peça da ONG Ser em Cena,
que contou com a doação de amigos. Todo o trabalho
é voluntário e os ingressos são gratuitos.
A peça vai ficar mais duas segunda – feiras,
dias 4 e 11 de outubro, no Bibi Ferreira. “Essa é
uma experiência inédita no Brasil. Agora tudo
depende da aceitação do público para
termos mais verbas, parcerias para formarmos mais grupos de
teatro e ajudarmos cada vez mais gente”, analisa Fernanda.
A ONG também oferece apoio psicológico para
o público atendido.
Mais informações pelo telefone (11) 3044-0633.
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