A rua Somos Todos Iguais, na periferia
leste de São Paulo, desemboca numa escola bem diferente
das outras. É a Escola Estadual Cohab Carrãozinho
que, nem de alvenaria, nem de latinha, é feita em placas
de madeira.
Se alguém perguntar na região sobre a escola,
dificilmente conseguirá informações.
Isso porque, entre os estudantes e os moradores, o local tem
um apelido: Escola Barracão. Uma alusão ao material
de que o edifício de dois andares é feito -o
mesmo que coloca de pé poucos barracos da região.
A escola tem 11 salas, abriga 1.093 crianças do primeiro
ciclo do ensino fundamental (de 1ª a 4ª séries)
e foi construída em 1994, pelo então governador
do Estado Luiz Antonio Fleury Filho (à época
no PMDB, hoje no PTB), em caráter emergencial e provisório.
A transitoriedade, no entanto, já dura dez anos.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da
Educação, em fevereiro de 2005 os estudantes
da Barracão começarão o ano letivo em
uma nova escola, feita em alvenaria e localizada a cerca de
1.200 metros dali.
A Barracão será então desativada, derrubada
e, no local, será construída uma nova escola
com novas vagas. De acordo com informações da
secretaria, a escola de madeira só não foi desativada
antes por falta de terreno.
Ainda segundo a assessoria, todas as escolas de madeira -número
não consolidado pela secretaria por conta da intensa
municipalização de escolas- e de latinha estão
sendo substituídas pelo Governo do Estado à
medida que a prefeitura faz a liberação de terrenos
para as construções.
Barulho
Apesar de externamente bem conservada -com os compensados
de madeira pintados de verde escuro-, a escola conhecida como
Barracão goza de pouco prestígio entre seus
estudantes.
"Não gosto de estudar aqui porque a escola é
de madeira", reclama João (todos os nomes das
crianças entrevistadas são fictícios),
8, estudante da 3ª série. "Gosto das aulas
de português. Só que, quando a professora faz
as leituras, a gente não consegue ouvir tudo nem consegue
fazer as lições. O barulho lá dentro
é muito grande", revela.
Segundo estudantes entrevistados pela reportagem, todas as
divisórias internas da escola também são
em madeira. O colega de João, Antônio, 8, da
2ª série, concorda: "É o maior barulhão
lá dentro. Como moro em frente à escola, tem
vezes que eu escuto da minha casa a professora dando bronca
nos alunos."
Para Carla, 10, e Marina, 11, o pior de estudar numa escola
de madeira é quando chove. "Parece que vai cair
tudo na nossa cabeça", dizem elas.
Maria Socorro Lucena, 41, que matriculou o filho na Barracão
há dois anos, também teme as tempestades. "Quando
chove, fico com medo de algo acontecer. Quando venta muito,
também fico com medo. Tenho a impressão de que
a escola pode cair."
FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo
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