Vanessa Sayuri
Nakasato
A prefeita e candidata à reeleição,
Marta Suplicy (PT), não cumpriu nem 20% do que prometeu
na campanha de 1999. É o que mostra o documento Compromisso
Cidadão, criado pelo Movimento Defenda São Paulo
nas últimas eleições municipais.
Com o objetivo de comprometer os candidatos à Prefeitura
de São Paulo a cumprirem suas promessas, a entidade
os enviou 31 perguntas das mais diversas áreas. Respondidas
as questões, todos eles assinaram suas propostas no
final do ofício. Inclusive Marta Suplicy que, por ter
sido eleita, teve o documento registrado e reconhecido em
cartório.
Quase quatro anos depois, o Movimento Defenda São
Paulo afirma que a candidata do PT cumpriu apenas cinco dos
31 itens assumidos. “É muita cara de pau Marta
aparecer na TV e dizer que fez 95% do que prometeu. Existe
um papel oficial provando que suas afirmações
são mentirosas e, se ela não se esqueceu do
que assinou, tem consciência disso”, afirma a
diretora-executiva da entidade, Regina Monteiro.
Segundo o Compromisso Cidadão, existem questões
em que Marta afirmou ser de absoluta relevância, mas
não moveu uma palha para que acontecesse. É
o caso do Plano Diretor Metropolitano. No documento, ela enfatiza
a importância de se haver parcerias com municípios
do Grande ABC e, principalmente, com o governo estadual. Dessa
forma, seria possível criar uma rede integrada de transportes
(ônibus, trem e metrô), coleta e disposição
de resíduos, melhoria de recursos hídricos,
entre outros. Na prática, os governos municipal e estadual
jamais se entenderam e, poucas vezes, capital e municípios
adjacentes se conversaram.
Ponto semelhante é a criação de indicadores
que mostrassem o andamento de São Paulo nas áreas
econômicas, sociais, urbanísticas e ambientais.
Conforme o ofício assinado pela prefeita, a idéia
era divulgar pesquisas na internet periodicamente. Os dois
projetos de leis (PL) que estabeleciam algo similar foram
aprovados na Câmara Municipal e vetados por Marta em
janeiro deste ano.
O PL 91/03, de autoria do vereador Odilon Guedes (PT), exigia
transparência, uso da linguagem simples e publicação
das contas municipais em toda a mídia, não somente
em Diário Oficial. O PL 715/02, de autoria do vereador
Gilberto Natalini (PSDB), criava o Índice de Responsabilidade
Sócio-Ambiental. O intuito era orientar e aferir as
políticas públicas desenvolvidas pela prefeitura
paulistana.
Mas a pior falha considerada pela entidade foi a vulnerabilidade
deixada pelos Planos Regionais e Uso e Ocupação
do Solo às áreas residenciais. A lei sancionada
pela prefeita em agosto permitirá que, a partir de
26 de dezembro, as chamadas Zonas 1 se transformem, oficialmente,
em vias coletoras. Ou seja, recebam linhas de ônibus
e maior fluxo de carros.
“De que adianta proibir o comércio e legalizar
a intensificação do tráfico dentro dos
bairros? Não vai haver sossego do mesmo jeito. Aliás,
alguns moradores já têm de suportar o trânsito
em frente às suas casas. É o caso da alameda
Gabriel Monteiro da Silva e rua Groelândia, nos Jardins
, da av. São Gualter, no Alto de Pinheiros, da rua
Joaquim Nabuco, no Brooklin. Isso já é o suficiente
para desqualificar uma área residencial”,
No entanto, no documento do Movimento Defenda São
Paulo, Marta escreveu o seguinte: “O direito de viver
em bairros residenciais, com a calma e silêncio e afastamento
de usos incômodos, deve ser garantido a todos os bairros
que assim o desejarem na cidade”.
“Em 99, Marta prometeu mundos e fundos e só
cumpriu o que acabava em boa propaganda e a oferecia poder
político e financeiro. Infelizmente, a quantidade de
paulistanos que lêem os jornais e enxergam tal fato
é mínima. E, esta quinzena, ela assinará
o Compromisso Cidadão 2004, assim como os outros candidatos.
Espero que, desta vez, ela pense se irá cumprir antes
de prometer. Chega de iludir a população”,
comenta Regina.
A assessoria de imprensa da prefeita foi procurada para responder
às acusações feitas pela entidade. As
repórteres do GD aguardaram o retorno do material por
onze dias e, até o fechamento desta matéria,
nada havia sido enviado.
O documento assinado por Marta Suplicy (PT) em 1999 foi reconhecido
no 6º Cartório de Registro de Títulos e
Documentos e Civil de Pessoa Jurídica, localizado na
rua Benjamin Constant, 147.
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