A Prefeitura de São Paulo
informa que criou 200 mil vagas nas escolas municipais nos
últimos três anos e meio. Por outro lado, aumentou
o número de unidades que têm quatro turnos de
aulas e não conseguiu reduzir o número de alunos
por sala. Essas duas questões podem prejudicar a qualidade
do ensino, segundo especialistas consultados.
Desde 2001, houve crescimento de 13% no número de
escolas municipais de ensino fundamentais (Emefs) que operam
com quatro turnos e de 24% de unidades infantis (Emeis) com
três turnos, segundo dados oficiais obtidos pelo Instituto
Pólis --ONG (organização não-governamental)
especializada em políticas públicas. Além
disso, a maioria das salas têm mais de 30 alunos.
Segundo a Secretaria da Educação, as cerca
de 200 mil novas vagas foram distribuídas da seguinte
maneira: 40 mil em creches, 63 mil em Emeis, 12 mil em Emefs,
50 mil nos cursos de Educação de Jovens e Adultos
e outras 33 mil no Mova (Movimento de Alfabetização
de Adultos).
A pasta não confirma as informações
do Instituto Pólis, mas a coordenadora do setor de
demanda escolar, Maria Khadiga Saleh, informa que cerca de
80% das unidades de ensino fundamental têm, hoje, quatro
turnos.
"Não há redução da carga
horária e não há prejuízo no ensino",
argumenta Saleh.
Nos estabelecimentos com mais turnos, o intervalo entre as
turmas é de apenas cinco minutos. Os alunos que saem
têm de deixar a sala rapidamente para dar lugar aos
que precisam entrar.
Horário apertado
As aulas acontecem das 6h50 às 10h50, das 10h55
às 14h55, das 15h às 19h e das 19h05 às
23h05.
Nas escolas fundamentais que operam com três turnos
(dois diurnos e um noturno), as aulas se dividem entre as
8h e as 12h, as 13h e as 17h e as 19h e as 23h. As escolas
infantis mantêm os mesmos horários, mas não
atendem durante o período noturno.
Especialistas ouvidos pela reportagem, porém, afirmam
que, para o aluno, a implantação de quatro turnos
não é positiva.
"A criança perde a oportunidade de usufruir do
colégio, as aulas podem durar menos tempo por causa
do curto intervalo entre as turmas e o prédio fica
deteriorado rapidamente", fala Marco Antônio Ferraz,
da Prof Assessoria em Educação (que presta serviços
a alunos e escolas).
A professora Neide Noffs, da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) de São Paulo, considera que os horários
diferenciados obrigam o aluno e a família a mudar a
rotina e isso pode prejudicar o desenvolvimento do estudante.
"Quem entra às 10h55 tem de alterar o horário
de almoço. E os pais têm de adaptar horários
para levar o filho à escola", afirma a professora
Noffs.
O elevado número de alunos dentro da sala também
é criticado. "Isso interfere na qualidade de ensino",
resume o professor Rubens Camargo, da USP. "Em países
europeus, há 20 ou 22 crianças por turma",complementa.
Segundo o Instituto Pólis, no ensino municipal fundamental
há, em média, 36 alunos nas salas.
Camila Croso, da ONG Ação Educativa, diz que,
quando o número de crianças por sala é
alto, "o professor não consegue dar atenção
suficiente ao aluno".
Documento do MEC (Ministério da Educação
e Cultura) de 1998 sobre a lotação das salas
sugere que, nas salas de zero a dois anos, haja entre seis
e oito crianças por professor; de três anos,
15 crianças por professor, e de quatro a seis anos,
20 alunos por professor.
As informações são
da Folha Online.
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