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Quem passeia pelas ruas arborizadas
dos Jardins, em São Paulo, pode não imaginar
que, dentro de cinco anos, é provável que grande
parte dessas árvores não esteja mais ali. Dados
preliminares de uma pesquisa realizada pelo IPT (Instituto
de Pesquisas Tecnológicas) mostram que, de 400 árvores
analisadas, 26% correm risco de cair nesse período.
Na verdade, a situação é ainda mais crítica
para parte dessas árvores: 16% podem cair dentro de
dois anos.
A operação Árvore Saudável, que
avalia pela primeira vez as condições das árvores
na cidade, foi encomendada pela Secretaria Municipal do Verde
e do Meio Ambiente no ano passado para identificar as principais
causas de queda de árvores e, com isso, tentar evitar
o problema.
Os dados mostram uma situação crítica,
mas não decretam a morte de todas as árvores
que apresentam alto risco de queda. "O que o índice
faz é levar a um estado de alerta, mostrar que algo
precisa ser feito ali. A prefeitura terá que analisar
cada caso e ver se pode fazer um manejo que garanta uma vida
maior à árvore", afirma o biólogo
Sérgio Brazolin, coordenador do projeto.
O secretário do Verde e do Meio Ambiente, Adriano Diogo,
afirma que a retirada das árvores só será
feita em último caso. "Se elas não tiverem
possibilidade de tratamento, terão de ser substituídas
por árvores mais jovens. São árvores
bonitas, significativas para a população, e
queremos tratá-las."
A prefeitura não dispõe de dados sobre o número
de árvores que caem anualmente em São Paulo.
Um dia antes de a secretaria contratar o IPT, em março
do ano passado, um homem morreu devido à queda de uma
tipuana.
Os pesquisadores cruzaram cerca de 60 informações
sobre cada árvore para determinar o seu risco de queda.
Ainda serão analisadas, por exemplo, a inclinação
da copa e a permeabilização do solo ao redor
das raízes. Só foram analisadas árvores
de grande porte, com mais de 5 m de altura.
Na primeira fase da pesquisa, que deve ser concluída
em dezembro, serão analisadas 6.748 árvores
em sete regiões de São Paulo: Jardins, Alto
de Pinheiros, Pacaembu-Sumaré, Vila Nova Conceição,
Lapa, Paraíso e Alto da Boa Vista. Por enquanto, só
foi calculado o risco de queda de árvores da região
dos Jardins.
A meta da prefeitura, porém, é expandir a pesquisa
para toda a cidade. Essas sete regiões foram escolhidas
por serem bem arborizadas, com árvores de mais de 70
anos que, segundo levantamentos anteriores do IPT, estão
infestadas por cupins subterrâneos.
Fatores de risco
O principal problema encontrado nas árvores analisadas,
segundo Brazolin, foi a presença de cupins. A infestação
em São Paulo será abordada em um projeto-piloto,
que será lançado nesta semana.
Em segundo lugar, estão as podas malfeitas, que desequilibram
a copa e facilitam a entrada de microorganismos nocivos à
planta.
Para o engenheiro florestal Rudi Arno Seitz, especialista
em podas, falta uma formação adequada dos técnicos
que realizam esse trabalho. No ano passado, Seitz, que é
professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná),
veio duas vezes a São Paulo ministrar cursos sobre
podas a equipes das subprefeituras e da Eletropaulo.
Outro problema, segundo Seitz, é cultural: falta à
população a percepção -a princípio,
óbvia- de que a árvore é um ser vivo.
"As propagandas de prédios mostram jardins maravilhosos.
Mas as pessoas esquecem que árvores crescem e perdem
folhas. Os que se incomodam, pedem podas drásticas,
que mutilam as árvores."
A opinião é reforçada pela pesquisa do
IPT. "Percebemos uma relação ruim das pessoas
com as árvores. Machucam, arrancam a casca, cortam
a raiz e impermeabilizam o solo ao redor. Isso afeta a saúde
da planta, o que pode levar à sua queda", afirma
Brazolin.
Um manual de poda foi lançado na semana passada pela
prefeitura. De acordo com o secretário Diogo, a meta
é adotar "uma poda mais científica"
que leve em conta, por exemplo, o período de repouso
de cada espécie (quando perdem as folhas).
"A maioria das podas não representa o ciclo biológico
da planta. As da Eletropaulo levam à inclinação
da copa para não atrapalhar a fiação",
disse.
A engenheira florestal Silma Carmelo, analista do meio ambiente
da Eletropaulo, diz que todas as podas feitas pela empresa
são autorizadas pela Eletropaulo.
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo
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