Marina Rosenfeld
especial para o GD
A mulher negra é a síntese da discriminação
tanto de sexo quanto de cor no Brasil. Ela é mais pobre,
trabalha em situações mais precárias,
tem menores rendimentos e sofre com as mais altas taxas de
desemprego. É esse o quadro em seis das principais
regiões metropolitanas do país: Belo Horizonte,
Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito
Federal.
A crise do desemprego vivida pela população
de uma forma geral, desde 1998, afeta particularmente as negras.
Na chamada grande Salvador, por exemplo, onde a imensa maioria
da população é composta por negros, foi
encontrada a expressiva diferença de 14 pontos percentuais
entre as taxas de desemprego para as mulheres negras (29,2%)
e para os homens não-negros (15,2%).
A pesquisa feita pelo Departamento Intersidical de Estatística
e Estudos Sócios Econômicos (Dieese) e pela Fundação
Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) mostra
que mais de um terço da população dessas
regiões trabalha sem carteira assinada. A grande maioria
que se encontra em situação vulnerável
é formada por negras. Em Salvador, Recife e São
Paulo esse percentual ultrapassou os 50% das ocupações
preenchidas por mulheres negras.
Esse dado é significativo pelo fato de grande parte
delas estar em emprego doméstico. “Esta atividade,
tipicamente feminina, é desvalorizada aos olhos de
grande parte da sociedade, caracterizando-se pelos baixos
salários e elevadas jornadas, além de altos
índices de contratação à margem
da legalidade e ausência de contribuição
à previdência”, diz o relatório.
Em todas as regiões analisadas, o rendimento hora
da mulher negra corresponde a não mais do que 61,2%
daquele recebido pelos homens não-negros, que estão
no topo da escala de ganhos do trabalho. Para a parcela populacional
negra, o rendimento por hora das mulheres é sempre,
em média, menor que o do homem em todas as regiões
analisadas.
“Quando examinados os ganhos por hora dos trabalhadores,
torna-se mais evidente a desigualdade por cor do que pelo
rendimento mensal, pois sobre a remuneração
mensal menor recebida pelos negros, incide uma jornada de
trabalho maior”, conclui a pesquisa.
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