Sete
Barras leva à risca as medidas básicas propostas
por especialistas
Os 1.967 estudantes do município de Sete Barras, a
cerca de 200 km de São Paulo, fazem parte de uma elite
da rede pública no País: são dos poucos
que, na 4ª série, obtiveram pontuação
entre 200 e 210 no Sistema de Avaliação Básica
(Saeb) - ou seja, sabem o que deveriam saber para o ano escolar
em que estão, segundo o Ministério da Educação
(MEC). O bom desempenho não se explica por um contexto
sociocultural favorável. A principal atividade econômica
do município é a extração de bananas
e a média de analfabetismo entre adultos (14,4%) é
duas vezes mais alta que a do Estado. Tampouco há computadores
na escola e 65,7% da população de 14,5 mil habitantes
é da área rural. O segredo de Sete Barras está
no fato de a rede municipal ter feito uma boa lição
de casa.
Todas as medidas que especialistas consideram necessárias
para o funcionamento de uma boa escola foram implementadas
lá: definição conjunta de um plano de
educação, valorização da carreira
docente com fixação de metas e cobrança
de resultados, formulação de um plano curricular
específico para cada série e disciplina, acompanhamento
individualizado do aluno, avaliações constantes,
aulas de reforço e participação da comunidade.
'Começamos em 2001, com a decisão de municipalizar
o ensino fundamental de 1ª a 4ª séries. Decidimos
fazer uma coisa planejada, escrita na legislação,
para ter continuidade', explica a secretária de Educação,
Edna Tanaka Kabata, mulher do prefeito Ademir Kabata (DEM).
'Pensamos em longo prazo e houve apoio político para
isso', diz.
O próprio casal decidiu dar o exemplo: os filhos passaram
por uma das duas escolas municipais e agora é o neto
quem freqüenta o ensino infantil em uma delas. 'Quando
a própria professora da rede pública não
quer colocar seu filho onde ela dá aula é porque
tem alguma coisa errada, não é? Isso acontecia
aqui antes. Agora, os pais médicos, dentistas, estão
tirando os filhos da escola particular para estudarem aqui.'
Na elaboração do processo, há sete anos,
foi contratada uma consultora especializada em educação
- a mesma consultora que ajudou a formular a política
educacional de Barra do Chapéu, outra pequena cidade
com bons resultados na Prova Brasil. Os professores foram
contratados no regime da CLT (sem estabilidade) e enviados
para fazer graduação na universidade da região.
Até então, nenhum tinha curso superior. Hoje,
quase todos os 78 estão formados e começando
uma pós-graduação. Quem não falta
durante o ano recebe um bônus de quatro salários.
Em média, cada professor recebe um piso de R$ 1.500
por mês - os graduados recebem 10% a mais e os da área
rural mais 15%.
'Não tem segredo nenhum aqui, fazemos o que toda escola
deve fazer', diz a coordenadora Terezinha de Freitas Oliveira.
'Mas temos o compromisso de ensinar.'
Simone Iwasso
O Estado de S.Paulo
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