As
empresas estão começando a acordar para um problema
real no ambiente de trabalho que acarreta prejuízos
diretos e indiretos às corporações, o
do uso de substâncias químicas pelos funcionários.
Só nos Estados Unidos, o custo anual com perdas patrimoniais,
queda na produtividade e despesas médicas é
de mais de US$ 100 bilhões. Além disso, 40%
de todos os acidentes de trabalho estão relacionados
ao consumo de drogas, álcool e tabaco.
Os dados alarmantes foram apresentados pela psicóloga
americana Karen Garret, diretora da River Region Human Services
e professora da Nova University e do Springfield College,
em visita ao Brasil, semana passada. Durante seminário
realizado na Federação de Comércio de
São Paulo, com apoio do Consulado Geral dos Estados
Unidos, ela ressaltou a importância dos programas de
prevenção corporativos.
"É necessário que
as empresas adotem políticas consistentes ligadas à
recuperação dos funcionários", diz.
Segundo Karen, entre as razões que têm levado
as companhias a se preocuparem com a questão estão
a queda na produtividade dos empregados. Pesquisas mostram
que 30% dela fica comprometida por problemas de dependência
química. "Essas pessoas trabalham com 67% de sua
capacidade produtiva", afirma.
Outra má notícia. Funcionários
envolvidos com drogas e álcool faltam 2,5 vezes mais,
chegam tarde 3 vezes mais e usam 5 vezes mais os serviços
saúde - gerando um custo maior para as empresas de
300%. O mais grave, na sua opinião, é que 67%
dos usuários de drogas estão empregados. "Os
reflexos são muito perceptíveis e causam grandes
impactos financeiros para as organizações",
diz Karen. E os números não param por aí.
Estudos reportam que mais de um terço dos funcionários
acidentados tinham usado maconha poucas horas antes do acidente
e 16% dos que sofreram acidentes graves haviam bebido.
Ainda de acordo com ela, o problema
não se restringe à base da pirâmide. A
dependência química atinge o alto escalão,
o que acaba se tornando uma situação crítica
para as empresas. "É complicado desenvolver uma
ação de prevenção ou apoio junto
ao executivo, que geralmente não gosta de expor o problema.
E ele é uma figura importante, já que é
o espelho de seus subordinados", explica Karen. Muitos
executivos acabam se tornando dependentes químicos,
observa, por fatores como estresse, pressão por resultados,
sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento e de "feedback"
dos chefes.
Por outro lado, quem mais sofre com
o problema é o setor de transporte de carga e as companhias
aéreas. No Brasil, essas empresas veêm como prioritário
o combate ao uso de álcool, principalmente pelo risco
que pode representar um motorista embriagado. Em algumas delas,
o uso do bafômetro foi incorporado à rotina de
trabalho.
Na Transportadora Americana, por exemplo,
todos os motoristas passam pelo bafômetro antes de pegar
a estrada. A empresa possui cerca de 2 mil funcionários
(entre registrados e prestadores de serviço). O teste
do álcool é restrito aos motoristas, mas testes
toxicológicos são realizados uma vez por mês,
por sorteio aleatório. Todos os funcionários,
do presidente ao porteiro, participam do sorteio.
Segundo Izabel Cristina Marques, supervisora
de responsabilidade social da transportadora, o programa foi
implantado há seis anos e de lá para cá
alcançou resultados bastante positivos. Em 2000, cerca
de 3% dos motoristas eram pegos no teste do bafômetro.
Agora, esse índice não ultrapassa 0,05%. No
entanto, o programa não possui caráter punitivo.
"Se ele for flagrado no bafômetro, será
substituído naquele dia e encaminhado para a psicóloga",
conta.
Testes toxicológicos,
inclusive, são uma prática usual em algumas
empresas brasileiras. Em geral, eles são feitos na
admissão ou por sorteio entre os empregados. A Embraer
adota os testes em seus programas de prevenção.
E não são só os empregados que passam
por eles. Os co-dependentes também. Quem se submeter
ao tratamento terá os custos financiados pela empresa.
Além da Embraer e da Transportadora Americana, outras
empresas criaram programas de prevenção e tratamento
de dependentes químicos no país como a Sabesp,
Goodyear, Pão de Açúcar, CPTM e Petrobras.
As informações são
do site Valor Online.
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