Fármaco
experimental em fase 2 de testes clínicos no país
tem eficiência de 95% e combina nanotecnologia com luz
Mais de 400 pessoas já foram tratadas, diz cientista
da USP autor do estudo; creme só funciona para os tumores
menos agressivos
Um creme feito com o auxílio da nanotecnologia, quando
energizado por um raio de luz vermelha, mata com uma eficiência
de 95% as células tumorais da pele humana.
O medicamento, desenvolvido por uma equipe de cientistas da
USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão
Preto, está sendo testado há um ano em três
hospitais do Brasil.
Além do interior paulista, a UnB (Universidade de Brasília)
e a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) estão
usando a pomada em pacientes de seus hospitais universitários.
"Devemos ter tratado mais de 400 pessoas com sucesso",
afirma Antonio Cláudio Tedesco, coordenador do grupo
de Fotobiologia e Fotomedicina da USP/RP. Ele é o principal
autor da pesquisa.
O sucesso da técnica, segundo Tedesco, está
baseado na nanotecnologia. A molécula fotossensível
que constitui o medicamento é montada em veículos
que medem milionésimos de milímetro e que podem
ser dirigidos de forma precisa para as células do tumor.
Esses transportadores são normalmente misturas de nanopartículas
com estruturas orgânicas. As moléculas do medicamento,
que além de serem fotossensíveis têm afinidade
química com o tumor, possuem duas vantagens: conseguem
liberar o fármaco de forma progressiva e são
seletivas, o que poupa os tecidos sadios.
"A terapia fotodinâmica é estudada há
mais de 30 anos no mundo e desde 1995 em Ribeirão Preto,
mas os vários veículos nanotecnológicos
disponíveis hoje trouxeram um grande avanço
para a área", disse à Folha o pesquisador
da USP.
Com o fármaco chegando com exatidão ao local
do tumor, os passos seguintes são mais fáceis
de serem controlados pelos cientistas em laboratório.
A energia causada pela luz visível -a ultravioleta
é a principal causa do aparecimento dos cânceres
de pele- provoca uma série de reações
químicas no local onde está a pomada.
"Em última análise, essa cadeia formará
radicais livres [moléculas instáveis e reativas]",
afirma Tedesco.
Como essas moléculas precisam buscar elétrons
para voltarem ao equilíbrio, diz o cientista, elas
vão atrás das células tumorais e as matam.
"Ninguém gosta de ficar desequilibrado."
Para o paciente, em vez de aulas de química, é
mais importante saber como é o tratamento e qual o
resultado na pele.
Uma das vantagens do método, afirma Tedesco, é
que ele não tem efeitos colaterais importantes, como
tem a quimioterapia e a radioterapia. "Em um dia, por
exemplo, a técnica pode ser reaplicada em uma nova
lesão. O tempo entre a utilização do
creme e o uso da luz não passa de três horas."
Apesar do êxito da técnica nacional, o método
não está no mercado. Após o término
da chamada fase 2 de testes clínicos, haverá
uma outra etapa de estudos, com mais pacientes.
Ele não funciona para o melanoma, tipo de câncer
maligno bastante agressivo que só pode ser retirado
por cirurgia.
Porém, no caso dos tumores em estágios inicial
ou intermediário, as lesões costumam sumir entre
7 dias e 21 dias.
Segundo Tedesco, a nanotecnologia e a fotodinâmica estão
sendo aplicadas em outros locais além da pele. "Estamos
destruindo também cáries com a luz visível",
afirma.
Eduardo Geraque
Folha de S.Paulo
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