RIO -
Um estudo do economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas
Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
mostra que a taxa de fecundidade entre adolescentes nas cinco
maiores favelas do Rio é cinco vezes maior do que entre
as que moram nos cinco bairros de renda mais alta da cidade.
A taxa média de filhos por menina de 15 a 19 anos
das Favelas da Rocinha, da Maré, do Complexo do Alemão,
do Jacarezinho e da Cidade de Deus, em Jacarepaguá,
é de 0,266. Já a dos bairros de Lagoa, Ipanema,
Botafogo, Copacabana e Tijuca é de 0,054. O economista
cruzou dados do Censo 2000 com
os números de recém-nascidos nas regiões
administrativas da prefeitura.
“O resultado mostra que, quanto mais pobre, maior é
o número de filhos das mulheres. Isso acontece em todas
as faixas de idade, mas foi mais forte entre
as adolescentes”, explica o pesquisador, para quem o
estudo comprova que a taxa de fecundidade nas favelas está
ligada à baixa renda e, conseqüentemente,
ao baixo nível de escolaridade.
Neri cita a Rocinha e a Barra da Tijuca. A favela, que tem
um dos menores índices de escolaridade do Rio, tem
taxa de fecundidade de 0,25 na faixa analisada. Ao lado, nos
apartamentos voltados para o mar da Barra, a taxa é
bem menor: 0,12. “Com mais filhos e menos recursos,
a família não investe em educação
e forma-
se um círculo vicioso. Pobreza leva a fecundidade e
fecundidade leva a pobreza.”
Enfermeira especializada em obstetrícia, Viviane Costa
conta que as adolescentes grávidas já são
responsáveis por cerca de 30% dos atendimentos que
faz no posto do Programa de Saúde da Família
da Favela do Canal do Anil, em Jacarepaguá, zona oeste.
“Pré-natal tornou-se o carro-chefe do posto,
como o tratamento de hipertensão. O número de
adolescentes grávidas tem aumentado e a idade delas,
diminuído. Recebemos cada vez mais meninas de 14, até
13 anos.”
Baile
Uma das pacientes de Viviane é Lídia da Silva
Costa, de 16 anos. Grávida de quatro meses, ela conta
que não conseguiu prevenir a gravidez porque tinha
vergonha de ir ao ginecologista.
“Queria ter filhos só com 18 anos, mas como
veio agora não achei ruim. Quando eu tiver 26, meu
filho já vai ter 10 anos. Vou poder até curtir
um baile com ele”, diz.
Para Neri, apesar de exposição a informações
sobre métodos anticoncepcionais, da influência
da TV e dos programas sociais, a educação é
que faz a diferença
entre meninas de comunidades carentes e de classe média.
“A renda acaba determinando a escolaridade, que faz
diferença. Não é só o acesso à
informação que deve ser levado em conta, mas
a capacidade de formar
opinião.”
Jenifer Chaves da Cruz, de 16 anos, gosta da barriga de nove
meses. Ela não planejou a gravidez, mas revela que
sempre admirou as amigas que também se
tornaram mães precoces. Obrigada pela tia que a criava
a ir morar com o namorado, ela confessa que dificilmente voltará
à escola. “Parei na sétima série.
Até pensava em continuar e trabalhar, mas agora não
dá mais.”
ALEXANDRE RODRIGUES
do jornal O Estado de S. Paulo
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