Você
consegue entender o que seu médico escreve? A maioria
das pessoas ouvidas pelo Conselho Municipal do Idoso, não.
Por isso, o conselho e o Centro Médico de Ribeirão
Preto (SP) estão organizando a campanha "Receita
médica legível: obrigação do médico,
direito do paciente".
Segundo uma pesquisa feita em julho com pessoas acima de 60
anos, nas salas de espera de nove Unidades Básicas
de Saúde de Ribeirão, os usuários da
rede municipal estão satisfeitos com o serviço
em geral, mas apontam como problema a dificuldade de ler e
compreender a receita médica.
Pelo levantamento, 48% dos entrevistados consideram o serviço
bom, 65% disseram que o médico atende com atenção
e ouve queixas, e 86% -tomando só os alfabetizados-
reclamaram que não conseguem ler e entender as receitas.
O conselho não soube dizer quantas pessoas foram ouvidas.
A campanha tem como objetivo conscientizar os médicos
da necessidade de escrever receitas legíveis e de fácil
compreensão. Quer também alertar a população
que esse é um direito seu.
"É para que a população perceba
que ela tem o direito de levar para casa uma receita que possa
ler e compreender bem para não correr o risco de usar
medicação inadequada, prejudicando sua saúde",
diz a geriatra Maria Nazareth Grisólia, vice-presidente
do Conselho Municipal do Idoso. Segundo ela, a campanha não
visa beneficiar somente os idosos.
"Está incutido na nossa cultura que é normal
o médico escrever de modo ilegível, e não
há nada de normal nisso", diz Grisólia.
Segundo o presidente do Centro Médico, Oswaldo Cruz
Franco, os médicos escrevem de forma ilegível
porque quando eram alunos se habituaram a escrever depressa
durante as aulas, nunca foram cobrados na formação
para escrever de maneira mais clara, e a informatização
de alguns locais de ensino tira a prática da escrita.
Além disso, segundo Franco, na rede pública
o médico tem em média 15 minutos para atender
um paciente, "o que agrava a situação".
Para Franco, o sistema informatizado melhora muito a clareza
na emissão de receitas, mas a rede pública não
tem esse recurso.
O farmacêutico José Sbondoni, 54, conta que diversas
vezes teve que pedir ao cliente para voltar ao médico
"para não correr o risco de passar medicamento
errado".
O lançamento oficial da campanha acontece no próximo
dia 9, às 19h30, no Centro Médico de Ribeirão.
Vão ser publicados anúncios na mídia
impressa. Estão previstos ainda outdoors, banners e
a veiculação nas TVs.
ADRIANA ALVES
free-lancer da Folha Ribeirão
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