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Unifesp
treina profissionais para reconhecer alunos com sinais de
doenças psiquiátricas
Programa foi inspirado em outras
iniciativas de sucesso no exterior; 300 estudantes da zona
sul de SP passam por avaliações médicas
A Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) criou um programa em que médicos
e outros profissionais da saúde vão até
as escolas ensinar os professores a identificar alunos com
suspeita de doenças psiquiátricas graves, como
a esquizofrenia. O foco são estudantes entre 11 e 18
anos de 40 escolas públicas de São Paulo.
Depois de identificados, os alunos seguem para o Proesq (projeto
de esquizofrenia da Unifesp) para confirmar o diagnóstico
-que envolve entrevistas com os jovens e seus familiares e
exames de neuroimagem. No momento, 300 estudantes da zona
sul de São Paulo passam por avaliações.
O programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso
em países como EUA, Inglaterra e Alemanha. "A
meta é a detecção precoce. Os professores
podem ajudar muito na identificação de sinais
sugestivos [da doença]. Às vezes, os adolescentes
passam mais tempo com eles do que com seus pais", diz
o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor da Unifesp e coordenador
do Proesq.
Entre os sinais investigados nos alunos estão queda
no rendimento escolar, relatos de perseguição
ou de ouvir vozes, agressividade e quadros depressivos e de
isolamento.
Em geral, a esquizofrenia começa na adolescência
ou no início da vida adulta -90% dos casos são
diagnosticados entre 15 e 25 anos. Estima-se que 1,8 milhão
de brasileiros (1% da população) tenham a doença.
A esquizofrenia preocupa os médicos por várias
razões, entre elas, a dificuldade do diagnóstico
precoce, o estigma e a não adesão à terapia.
Uma recente revisão de estudos feita pelo Instituto
de Psiquiatria da USP mostrou que metade dos portadores de
esquizofrenia não adere ao tratamento, o que aumenta
em 88% as chances de recaída (surtos).
"Cada surto significa perda de neurônios e declínio
mais rápido do paciente. Quanto mais surtos, maior
o comprometimento das funções psíquicas
e dos danos cerebrais", diz o psiquiatra Hélio
Elkis, coordenador do projeto de esquizofrenia do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP.
Resistência aos
remédios
As recaídas também são causadas por refratariedade,
quando o doente desenvolve resistência aos antipsicóticos
convencionais -drogas que agem nos receptores neuronais de
duas substâncias produzidas no cérebro, a dopamina
e a serotonina. De 30% a 40% das pessoas com esquizofrenia
podem apresentar o problema.
Nesses casos, é preciso associar à terapia outras
drogas antipsicóticas. Mas também há
entraves. Uma pesquisa da Unifesp mostrou que 80% dos pacientes
refratários às drogas convencionais, tratados
em um Centro de Atenção Psicossocial de São
Paulo, não eram reconhecidos como tal e muito menos
tratados adequadamente.
Segundo Bressan, os médicos tinham medo em medicá-los
com a clozapina (antipsicótico usado em casos refratários
e fornecido gratuitamente pelo governo do Estado). "O
remédio tem como efeito colateral a granulocitose [queda
dos glóbulos brancos do sangue]. Mas o risco é
mínimo quando os doentes são acompanhados de
forma adequada. Também falta treinamento para os profissionais
da saúde."
Cláudia Collucci
Folha de S.Paulo
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