O geólogo Norberto Baracuí,
61, está prestes a se tornar o maior doador de mudas
de pau-brasil de que se tem notícia na cidade de São
Paulo. Dez anos atrás, porém, ele nunca tinha
prestado atenção a um único exemplar
dessa espécie. "Era apenas uma vaga referência
nos livros de história."
Migrante nordestino, ele cursou geologia na USP -depois se
tornou um dos fundadores do Colégio Equipe- e sempre
teve uma reverência especial pelas árvores. "Vim
do sertão da Paraíba. Árvore para mim
significava riqueza e sombra." Em seu sítio, numa
pequena praia do litoral de São Paulo, fez do plantio
seu hobby favorito.
Até que, numa de suas viagens ao Nordeste -"adoro
ir às festas de São João"-, ele
foi apresentado, por acaso, a um majestoso pau-brasil. "Achei
estranho que eu, geólogo, tivesse passado cinco décadas
da minha existência sem ter a curiosidade de conhecer
essa árvore tão simbólica para os brasileiros."
Tratou, então, de compensar o tempo perdido. Saiu à
caça de livros não só nas bibliotecas
mas também nos sebos para estudar sobre o pau-brasil.
Nem se deu conta de que aquilo ia se transformando, para ele,
numa mania.
Montou um viveiro de milhares de mudas no litoral, o que lhe
deu a primeira frustração ecológica.
Propôs uma doação para que estudantes
das escolas de São Sebastião, no litoral paulista,
plantassem mudas de pau-brasil em suas escolas. "O poder
público não se interessou." Imaginava que,
como os alunos são obrigados a estudar sobre a descoberta
do Brasil e a exploração do pau-brasil, todos
fossem gostar da experiência, pois seria possível
misturar história com educação ambiental.
A lição iria mais longe, segundo ele. O pau-brasil
habitava, em abundância, no litoral que ia do Rio Grande
do Norte ao Rio de Janeiro e desapareceu. "Existe aí
a idéia de que, quando apenas se colhe, sem semear,
tudo vai embora. É importante, na vida, a atitude de
plantar."
No início deste ano, ele soube que se tramava, em São
Paulo, a realização de um mutirão que
envolveria a prefeitura e associações comunitárias
para o plantio de árvores. Fez então a oferta
de doação de 40 mil mudas, mas com uma condição:
os alunos teriam de plantá-las em cada uma das mil
escolas municipais. "Topamos na hora, é claro",
disse o secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo
Jorge.
Com isso, pela primeira vez, o pau-brasil, imaginado como
extinto, pelo menos pelos estudantes paulistanos será
visto não apenas nos livros mas também nos pátios
das escolas.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.
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