Paulo Cunha é um dos empresários
mais bem-sucedidos do Brasil. Filho de um militar e de uma
professora primária, cursou escola pública,
formou-se engenheiro e, atualmente, é proprietário
de empresas cujo faturamento anual chega a R$ 4,8 bilhões.
É obrigado a decidir sobre assuntos que envolvem de
comércio exterior a projetos de infra-estrutura e inovações
tecnológicas petroquímicas. Apesar do sucesso
na gerência de grandes negócios, sente-se inseguro
ao receber lições de uma pequena escola pública
em Sapopemba, na zona leste de São Paulo. "Não
sei as respostas."
Presidente do Grupo Ultra, Paulo Cunha integra uma equipe
de 20 empresários que se propuseram a dar idéias
para melhorar a gestão do ensino municipal em São
Paulo. Cada empresário ficou responsável pelo
diagnóstico de uma escola. Há um mês,
Paulo Cunha analisa o funcionamento de uma unidade em Sapopemba.
Com seu olhar de executivo, ele encara a escola como uma linha
de produção e procura entender cada etapa do
processo de aprendizado. Vai, aos poucos, vendo como as falhas,
com o tempo, se agigantam. "O produto final é
um desastre." Desastre significa que os alunos desistem
de aprender.
Reconhece que a diretora e as professoras são esforçadas
e até preparadas, mas, segundo ele, vítimas
de um esquema ineficiente. De acordo com as suas contas, descontando
os recreios, cada aluno da rede municipal, onde existem três
turnos, fica no máximo duas horas e meia em sala de
aula. Além disso, são poucos os pais que se
envolvem no aprendizado dos filhos. A maioria deles não
ajuda na lição de casa nem, muitos menos, freqüenta
a escola. Os alunos, despreparados, mudam de série,
muitas vezes sem merecer e sem reforços para que recuperem
o que deveriam saber. O empresário diz que não
há premiação nem para o aluno empenhado
nem para a professora dedicada. "Isso não foi
feito para dar certo."
Para o Grupo Ultra, não seria tão difícil
ajudar especificamente aqueles estudantes de Sapopemba. "A
questão não é encontrar uma solução
isolada, mas ajudar a gestão de toda a rede."
Paulo Cunha admite que seu conhecimento de educação
pública está defasado. Afinal, ele é
de um tempo que hoje parece exótico: o tempo em que
um menino podia estudar numa escola pública e virar
um dos maiores empresários do país.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.
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