A operação da Polícia
Federal contra a Daslu produziu uma euforia em determinados
segmentos da sociedade como se, enfim, os ricos estivessem
sentindo o rigor da lei.
A Daslu, afinal, é menos uma loja e mais um ícone
da desigualdade social; todos os endinheirados parecem ter
ido para a cadeia com a prisão de Eliana Tranchesi.
A euforia está, porém, focando o alvo errado.
Nada contra, óbvio, a polícia punir aqueles
que infringem a lei. É bom mesmo que ninguém,
muito menos a elite, sinta-se impune; para o trabalhador,
a mordida dos impostos já vem no salário.
O que me incomoda é a ilusão movida pelo misto
de ressentimento e inveja com ideologia supostamente progressista.
Desconfio que, embalado na preocupação legal
(o que é elogiável), está embutido um
jogo de marketing policial -e, quem sabe, uma dose de narcisismo.
A Daslu não é causadora da desigualdade. É
apenas a sua conseqüência. Se nós fôssemos
condenar os empresários usando como critério
o acesso de seus produtos entre os mais pobres teríamos
de colocar na lista teatros, cinemas, restaurantes, salas
de concerto, hotéis de cinco estrelas.
E até mesmo segmentos da imprensa escrita, cujos produtos
estão longe de chegar a todos. Editoras que fazem livros
de arte produzem desigualdade?
Qual é, essência, a diferença da Daslu
dos demais shopping centers, levando em conta o tamanho da
periferia da cidade de São Paulo. As lojas dos Jardins
seriam, por acaso, símbolos de inclusão social?
São todos empresários que, em vez de colocar
o dinheiro rendendo num banco, estão gerando empregos
e impostos. Isso deveria ser valorizado numa sociedade de
especuladores e em que faltam empregos.
Se a Daslu fraudou, sonegou, corrompeu, deve pagar, sem piedade,
pelos seus erros.
Mas transformar isso em bode expiatório é mais
ignorância do que ideologia.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Dinheiro.
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