Perguntei
a João Guilherme Estrella, ex-viciado e ex-traficante
que inspirou o filme "Meu Nome Não é Johnny",
como ele educaria seu filho contra o abuso de drogas. Sua
receita: ficar próximo e, sem discursos moralistas
ou histéricos, mostrar os perigos do prazer. A proximidade
ajudaria a evitar que o filho, longe da família, visse
nos amigos sua única fonte de acolhimento afetivo.
"Sou um ótimo contra-exemplo do perigo da droga",
conta.
Esse foi um detalhe da minha entrevista com João Guilherme
(leia a íntegra aqui).
Mas é um detalhe valioso para os pais e educadores
preocupados com o abuso de drogas entre os jovens. Estabelecer
limites gera conflitos e desgastes, mas é uma das grandes
responsabilidades dos pais e educadores não para tolher,
mas para assegurar a liberdade. João Guilherme, como
mostra o filme, sentia-se um indivíduo totalmente livre,
sem limites na família, na escola e na sociedade. Foi
descobrir o limite da pior maneira possível. Numa jaula.
O que a história de João Guilherme, amplificada
pelo filme, traz à reflexão é que pouco
adianta o discurso terrorista ou moralista contra as drogas.
Da mesma maneira, é inútil não admitir
que a droga gera prazer --e só por isso é sedutora.
Diante disso, fica para os pais e educadores a lição
de que não devem nunca temer o conflito com os jovens
para que se estabeleçam os limites. Nesse conflituoso
aprendizado do limite, o jovem tem mais condições
de valorizar a autonomia.
Isso implica inclusive estabelecer limites na própria
sociedade. Difícil falar para os jovens do perigo do
abuso das drogas quando a publicidade estimula o consumo do
álcool. É simplesmente indecente a facilidade
com que se associa a bebida à sensualidade e até
à saúde.
Para o aprendizado do limite sem moralismo nem histeria,
o filme deveria ser trabalhado nas escolas. Vale mais do que
qualquer sermão.
Links relacionados:
O traficante que
virou educador
Coluna originalmente publicada na
Folha Online.
|