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Apesar
de estar na fase de testes, o buscador virtual já chamou a
atenção do Ministério da Educação
Um Software livre vem sendo construído há dois
anos por estudantes de pós-graduação
da Fundação Vanzolini, ligada à Escola
Politécnica, da USP. O programa vai permitir a identificação,
em cada bairro, das oportunidades de aprendizado. É
uma espécie de GPS educativo.
Seu objetivo é localizar os cursos profissionalizantes
de instituições como o Senai, o Senac e o Centro
Paula Souza, passando pela lista de filmes, peças teatrais,
concertos, palestras, exposições, até
oficinas de origami, aulas para formação de
DJs e clínicas de saúde física e mental.
Isso significa, por exemplo, que um pai vai poder encontrar,
na rede pública, alguém para tratar seu filho
com hiperatividade ou distúrbio de atenção,
e um professor vai poder encaminhar um aluno a centros especializados
em tratamento para dependentes de drogas.
Como o foco são especialmente atividades gratuitas
ou de preços populares, o software será exibido,
na próxima quarta-feira, ainda numa versão em
teste, numa escola estadual de São Paulo, escolhida
para mostrar como alunos, pais e professores poderiam descobrir
e usar conexões, com baixo ou até nenhum custo.
Por falta de informação, não se usa boa
parte da riqueza cultural gratuita da cidade. Se esse buscador
virtual conseguirá ganhar escala, é cedo para
saber.
Mas, apesar de estar na fase de testes, essa invenção
já chamou a atenção do Ministério
da Educação, interessado em disseminá-la
nacionalmente por achar que, se cada escola aproveitar o que
existe em seu entorno, os alunos terão mais chance
de se desenvolverem. Esse é apenas um microscópico
exemplo do poder do que se convencionou chamar de indústria
criativa, apontada como um dos principais motores da economia
-é algo tão importante que os ingleses decidiram
criar um ministério apenas para incentivar esse segmento.
No Brasil, pelo menos por enquanto, é conversa de um
punhado de especialistas.
Na indústria criativa, o capital intelectual é
o principal componente de produção e distribuição
de bens e serviços que envolvam, especialmente, imagens,
textos e informações. É uma ampla lista
que inclui animação digital, videojogos, livros,
filmes, arte folclórica, moda, design, radiodifusão,
serviços de arquitetura e publicidade.
Boa parte dessas atividades existe há muito tempo,
mas as tecnologias de informação abriram-lhe
novas possibilidades -é algo que vemos quando fazemos
qualquer busca usando o Google ou ao baixar uma música
ou filme pela internet.
Nesta semana, a Firjan (Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro) apresenta, durante um seminário
sobre como estimular a indústria criativa, estimativa
de que, no Brasil, esse segmento já movimentaria algo
como 16% do PIB, cerca de R$ 380 bilhões. A média
salarial do segmento é de R$ 2.100 mensais, quase o
dobro da média nacional.
Há uma série de questões envolvidas
no desenvolvimento dessa indústria no Brasil, como
estímulos fiscais, abertura do mercado internacional,
melhoria na escolaridade e recursos para a inovação.
Os países têm investido cada vez mais em parques
tecnológicos, misturando centros de pesquisa, universidades,
empresas e agências governamentais.
Em essência, porém, o maior desafio é
nutrir e atrair talentos. Saem na frente as cidades que ofereçam
mais possibilidades profissionais, educacionais, culturais
e até de lazer. Por estranho que pareça, tanto
quanto a Virada Cultural, a Parada Gay, que ocorre neste domingo
em São Paulo, por revelar o apreço à
diversidade, é um monumental atrativo para os talentos
que, em geral, gostam de lugares agitados, com serviços
24 horas. Em geral, para os inquietos, empreendedores, aqueles
que sentem o prazer do novo, é tão importante
contar com bons hospitais e escolas como dispor de diversidade
cultural e até de uma boêmia de qualidade. Não
é à toa que Nova York e Londres são as
cidades de referência para os talentos mundiais.
O maior obstáculo brasileiro para o desenvolvimento
dessa indústria, entretanto, é a conhecida incapacidade
do sistema público de produzir talentos. Até
mesmo na rede privada de ensino são escassos os laboratórios
para realizar experimentações e descobrir vocações.
Daí o significado de aquela invenção
dos universitários da Fundação Vanzolini,
ligada à Poli, ser apresentada numa escola pública.
A idéia é ajudar a transformar o conhecimento
de uma cidade, a começar do bairro, em riqueza.
PS - É uma pena que não saia
do papel a proposta de criar um parque tecnológico
voltado aos serviços na cidade de São Paulo,
associado à USP -eis um bom assunto para a sucessão
municipal. Coloquei neste
link textos para quem deseje conhecer mais a indústria
criativa.
Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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