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Algumas entidades apostam num
diferencial para propagar a igualdade de gênero. São
muitos os instrumentos utilizados. Oficinas, Fóruns,
cursos de capacitação e inclusive uma rádio
bem diferente. Ou melhor, uma rádio com um olhar 'lilás'
sobre as questões cotidianas. Essa foi a proposta de
um grupo de mulheres ativistas que buscavam um canal de comunicação
para divulgar seus desejos e seus direitos frente a uma sociedade
ainda preconceituosa. A ONG
Comunicação, Educação e Informação
em Gênero (CEMINA), criada nos anos 80, surgiu para
dar voz e vez às mulheres, questionando valores e estruturas
da sociedade. A primeira iniciativa da entidade foi o programa
Fala Mulher, que surgiu em 1988 a partir de um grupo de voluntárias,
que se profissionalizou. O programa fez escola e foi transmitido
durante 12 anos na rádio Guanabara e Rede Bandeirantes
do Rio de Janeiro.
"O programa Fala Mulher
foi pioneiro em produzir algo diferente para as mulheres.
Não tratava de dicas de beleza, receitas de bolo e
coisas domésticas, mas impulsionava um pensamento próprio
para a mulher", comenta Denise Viola, coordenadora do
Núcleo de Produções Radiofônicas
do CEMINA.
Com o sucesso do programa Fala Mulher,
um público formado por líderes comunitárias
e entidades queria aprender a utilizar a rádio como
instrumento de luta para as relações de gênero.
Assim, a CEMINA passou a oferecer cursos de capacitação.
A entidade agrupava os interessados de acordo com o tema para
começar as turmas, que ficavam de quatro a cinco dias
reunidas para aprender a elaborar uma matéria e editar
o produto final. Há aulas teóricas e práticas
para as pessoas poderem manusear tanto a mesa de operação
do áudio, quanto elaborar uma pauta.
Maria das Graças Rocha, secretária
executiva da Federação das Rádios Comunitárias
do Rio de Janeiro e responsável pela rádio comunitária
Novo Ar, fez o curso de capacitação de rádio
com a CEMINA e contou que aprendeu muitas coisas. "Até
me informei mais sobre questão da mulher. Quando aparecia
um caso de violência, já sabia para onde encaminhá-la
e sabia também orientá-las sobre a necessidade
das políticas públicas", disse Graça.
O CEMINA fez mais de 300 capacitações,
principalmente para três tipos de públicos: comunicadoras
populares, que queriam potencializar suas atividades radiofônicas;
lideranças dos grupos de mulheres, que estavam interessadas
em ter o rádio como instrumento de mobilização;
e rede de jovens, estimulando a troca de informação
entre líderes comunitárias e pessoas ligadas
à rádio e à causa feminista.
No começo do curso, os alunos
iam para a sede da CEMINA, mas depois a entidade achou mais
interessante estar conhecendo o local, onde seria implantada
a rádio comunitária para presenciar os problemas
da região e daquelas mulheres. De acordo com Denise,
a entidade busca trabalhar e atender pessoas que estejam inseridas
neste universo do olhar diferenciado. Além disso, procuram
patrocinadores para ajudar no custo da viagem e até
na infra-estrutura da futura rádio.
Segundo Silvana Lemos, coordenadora
do projeto de rádio e TICs (tecnologias da comunicação
e informação) do CEMINA, quem não sabe
manusear o computador já está excluído
em boa parte do mercado de trabalho. Por isso, a importância
dos cursos de inclusão digital do CEMINA. "As
novas tecnologias constróem pontes e possibilitam melhor
qualificação profissional para a mulher",
afirma Silvana.
Como cinco dias eram pouco tempo,
as líderes comunitárias que participavam do
curso de formação em rádio decidiram
criar a Rede de Mulheres no Rádio. Uma articulação
nacional, que surgiu da vontade das participantes fortalecerem
e estimularem a troca de experiências. A rede começou
em 1995 com 30 mulheres e hoje já conta com cerca de
400.
Criada a partir dos cursos de capacitação,
as integrantes da rede fazem parte da Rede Cyberelas, que
é uma das estratégias do Projeto de Inclusão
Digital de Mulheres Comunicadoras. Na medida em que a entidade
obtém recursos para promover a inclusão digital
dessas comunicadoras populares e suas respectivas rádios,
elas recebem computadores, softwares especializados em edição
e montagem de programas de rádio e são incentivadas
a trocar conteúdo via internet. As rádios também
oferecem a proposta de telecentros para as comunidades onde
se localizam.
Deusilina Teles, diretora da rádio
Vitória 104,9 FM, tinha o sonho de trabalhar com rádio.
Como ela diz: "Fui no peito e na raça aprender
a manusear a rádio". Ex-aluna do curso de capacitação
de rádio da CEMINA e de Inclusão Digital, a
senhora de 50 anos tem o programa Sabor de Mulher, que aborda
direitos humanos, aborto, trabalho doméstico e outros
assuntos referentes ao universo 'lilás'. "Adquire
valor pela vida. Nem me lembro mais que tenho 50 anos, me
sinto com 15", afirma Deusilina.
"Passo todas as informações
para as minhas amigas. Com isso, a gente vence paradigmas,
ocupa um espaço maior na sociedade e tem uma mente
aberta. Eu faço de tudo no meu programa. Faço
até link [entradas ao vivo]", conta Deusilina.
Já Micheline Américo,
do Centro das Mulheres do Cabo e ex-aluna do curso de rádio,
participa do eixo projeto Rádio Mulher, do programa
Direito Sexuais e Reprodutivos da Mulher. O projeto da rádio
é realizado pelas mulheres da região da Mata
Sul de Pernambuco, que estão procurando promover a
fala pública da mulher, abordando questões como
planejamento familiar, DST-AIDS, mulher no mercado de trabalho,
direitos humanos, saúde da mulher e outros. A linha
editorial da rádio é a perspectiva feminista.
"Vamos procurar passar os conhecimentos obtidos pelo
curso dado pelo CEMINA para as mulheres desta região,
que vão se tornar multiplicadoras. Assim, vamos nos
pautar pelas bandeiras do feminismo", aponta Micheline.
Em agosto de 2002, o CEMINA expandiu
seu projeto social para o site Rádio Fala Mulher, que
promove a eqüidade de gênero através da
internet e sua principal pauta é a mulher nos diferentes
aspectos (comportamento, etnia, saúde, direitos, juventude,
poder local e assuntos de seu cotidiano).
Há programa de debates sobre
assuntos polêmicos, entrevistas com pessoas relacionadas
a saúde da mulher, um quadro sobre juventude feminina
chamado "Incomodadas - Incomodadas ficava sua avó!",
um programa comportamental intitulado "Com a Mão
na Massa", esquetes (programas curtos que dramatizam
cenas do cotidiano feminino) e campanhas de diversos spots
(pequenas peças de divulgação) sobre
parto humanizado, mulher e meio ambiente, sexualidade, violência
contra a mulher e outros.
"A gente trabalha a rádio
com um olhar diferenciado. Costumo dizer que usamos uma lente
lilás em todos os assuntos, um olhar de gênero.
Procuramos mostrar o papel da mulher no meio ambiente, direitos
da mulher, violência contra a mulher, prevenção
às DST/AIDS, amamentação e outros assuntos
do universo feminino", conclui Denise.
Serviço:
CEMINA - Comunicação, Educação
e Informação em Gênero
Rua Álvaro Alvim, 21 - 16º andar
Centro - Rio de Janeiro
Tel. (21)2262-1704
e-mail: cemina@cemina.org.br
www.cemina.org.br
SUSANA SARMIENTO
do site setor3
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