Com
18 anos de magistério, a professora Luísa Menz
faz um esforço diário para levar os assuntos
dos livros para a vida real.
"As possibilidades de relacionar
disciplinas com o cotidiano são inúmeras. Tudo
o que aparece na mídia pode gerar discussão",
diz Luísa. "O mais importante é a família
estimular a conversa sobre todos os temas do dia-a-dia. Pais
sem diálogo mandam para a escola alunos com dificuldades
para desenvolver as suas idéias", acrescenta.
Na opinião do professor de
geografia Christiano Van Gorkon, o estudante só se
interessa por aquilo que entende:
"Cabe ao aluno discernir, de
forma crítica, as informações que estão
sendo passadas. E nesse ponto é importante o debate
com os pais."
Até um assassinato, como o
da jornalista Beatriz Helena de Oliveira Rodrigues, de Novo
Hamburgo, pode produzir uma boa conversa. Trabalhando direitos
humanos na aula de sociologia com o 1º ano do Ensino
Médio, Luísa usou o exemplo do acusado para
explicar que todos têm direito a julgamento e defesa:
"Ao falar sobre a Era Vargas
e as características de um ditador, uma aluna disse:
"Então minha mãe é uma ditadora".
Não perdi a chance de aprofundar o conceito. O interesse
dos alunos aumenta muito quando relaciono o assunto discutido
com fatos dos dias de hoje."
Augusto Rückert, 16 anos, vê
nessa prática um trunfo para o aluno:
" Você compreende e se
interessa mais. Interpretamos o que está acontecendo
e até que ponto é conseqüência do
passado."
A grande conquista é a formação
de uma opinião própria. Detalhes, nomes e datas,
os livros e a Internet oferecem.
"Tenho ex-alunas que dizem lembrar
de mim contando a história do século do ouro.
Não lembram de datas, não precisa. Ficou o fato,
o interesse. Longe da decoreba, posso brincar com a história
e estudá-la, fica mais agradável."
A Guerra do Iraque é um dos
assuntos melhor aproveitados. Com as séries mais avançadas,
o tema aparece sempre que se fala dos Estados Unidos. Já
com os alunos menores, a professora Luísa acredita
ser essencial o respeito aos interesses:
"Se perguntam sobre a guerra,
não podemos fugir do assunto. Todos os professores
de história sabem que os alunos adoram estudar as guerras,
é preciso saber aproveitar esse interesse. Não
acho necessário a professora da 1ª série
estudar guerras, mas, se um aluno perguntar, ela responde
e segue a aula."
Christiano enxerga em 70% das notícias
diárias em jornais uma abordagem a partir da geografia:
"Trabalhar em tempo real é
primordial. O aluno teve um pré-contato, mas ficou
com dúvidas. Em aula, as dúvidas são
debatidas para que se construa o conhecimento em cima do fato.
Quando se entende o que está acontecendo, se quer buscar
mais. Quanto mais próximo do aluno o conteúdo
estiver, mais interesse ele vai ter."
MARIANA BERTOLUCCI
da jornal Zero Hora, de Porto Alegre - RS
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