Um grupo de voluntários
chegou em Porto Alegrel ontem pela manhã disposto a
desafiar as leis da matemática para salvar uma vida.
Pela estatística, há uma chance de apenas 0,03%
de que entre eles se encontre um doador de medula óssea
compatível com a adolescente Andreia da Silva, vítima
de leucemia. Mesmo assim, cada um dos 37 candidatos mantém
a esperança de trazer em seu corpo a cura para Andreia.
A estudante de 15 anos, moradora de
Uruguaiana, sofre de leucemia mielóide crônica
(uma espécie de câncer que afeta o sangue) e
faz quimioterapia no Hospital Universitário de Santa
Maria. Como a medicação não consegue
curá-la, somente um transplante de medula pode garantir
que a menina continue viva.
O problema é que Andreia não
encontrou um doador com sistema imunológico compatível
com o seu entre familiares ou as 65 mil pessoas cadastradas
no Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea
(Redome). A chance de um doente ter um irmão compatível
é de 25%. Fora do círculo familiar, mas dentro
do país, a probabilidade fica em uma para 100 mil.
Também existe um cadastro internacional,
ao qual a gaúcha será submetida. Nesse caso,
a maior variação genética de outras populações
faz a chance de encontrar alguém despencar para uma
em 1 milhão. Depois de o drama da estudante ser divulgado,
inicialmente, pelo Diário de Santa Maria e, depois,
pela RBS TV local, no início do mês, moradores
da região se mobilizaram.
Candidatos a doadores começaram
a ligar para o Centro de Apoio à Criança com
Câncer (CACC) do município, que conseguiu a cessão
de um ônibus da empresa Planalto para transportar os
primeiros 37 voluntários a Porto Alegre. Eles viajaram
287 quilômetros na madrugada de ontem para fazer exames
de sangue no Hospital Dom Vicente Scherer, do complexo Santa
Casa, e se cadastrar no Redome.
"Trouxemos aqueles que ligaram
primeiro. Agora já temos 200 pessoas na fila de espera",
afirma a vice-presidente da CACC, Telma Brum.
São estudantes, trabalhadores,
donas de casa que se emocionaram ao acompanhar o desespero
da menina e sua mãe na imprensa.
"Eu também sou mãe.
Assim que vi o apelo da menina na TV, decidi ajudar",
explica a técnica contábil Magda Klein, 39 anos.
Os voluntários deixaram filhos,
maridos e mulheres em casa, pediram dispensa de seus empregos
e embarcaram às 4h no ônibus carregado de esperança.
"Quando eu vi o caso no jornal,
pensei: será que não sou eu o doador?",
conta o rodoviário Gilmar Vieira dos Santos, 35 anos.
Novas viagens já estão
sendo agendadas pelo CACC. Telma argumenta que, mesmo se a
salvação de Andreia não estiver entre
os voluntário, eles farão parte do cadastro
nacional. A adolescente comemora a mobilização:
"Eu sempre achei que muita
gente pudesse me ajudar, porque este povo é muito bom.
Estou muito feliz. Muito obrigada".
MARCELO GONZATTO
do jornal Zero Hora
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