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Vanessa
Sayuri Nakasato
Trinta e seis adolescentes, entre 14 e 16 anos, estão
com as malas prontas para ir à Europa, esta semana.
Eles representarão o Brasil em quatro copas mundiais
na Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia. Os
meninos, em sua maioria moradores da periferia de São
Paulo, viajarão por 40 dias e disputarão com
28 mil atletas de 55 países.
Os adolescentes compõem um
dos times do Clube Pequeninos do Jockey. Trata-se de uma associação
de futebol infanto-juvenil que funciona na chácara
do Jockey Clube e atende crianças carentes. Fundado
em 1970 pelo ex-turfista José Guimarães Junior,
mais conhecido como Velho Guima, é a 22ª vez que
o clube leva seu time para campeonatos no exterior.
O Clube Pequeninos do Jockey é
famoso por colecionar títulos e fabricar craques. A
galeria da sede exibe mais de mil troféus, dentre eles
143 internacionais, fotos, recortes de jornais com vitórias
em diversas partes do mundo, e ex-alunos como Zé Roberto
(Bayern de Munique, Alemanha), Julio Batista (Sevilha, Espanha)
e André Luiz (Paris Saint-Germain, França).
Apesar disso, o maior orgulho de Guimarães é
outro: “Minha grande alegria é saber que os garotos
saem daqui cidadãos. Somos uma máquina de formar
homens.”
Segundo Guimarães, o objetivo
da entidade não é transformar crianças
em estrelas do esporte, mas em pessoas de caráter.
Respeito, solidariedade, integridade e honestidade são
assuntos trabalhados diariamente nos gramados. O recurso preferido
são histórias verídicas e fictícias,
algumas tristes, outras bem humoradas, contadas pelo Velho
Guima depois do treino, uma vez por semana. “É
uma maneira de os garotos sentirem, refletirem, entenderem
e nunca esquecerem da importância de cada ato ou sentimento.”
Sem escola, sem bola
Um dos critérios para treinar no Pequeninos
do Jockey é estar na escola. E não basta freqüentar
as aulas. Tem de ter notas boas, caso contrário, recebe
punição. Nos fins de bimestre, os treinadores
pedem para que as crianças apresentem seus boletins.
Cada nota vermelha é um jogo a menos em campeonato.
Ou seja, tirou nota baixa, fica no banco.
“Aqui ninguém reprova.
Essa molecada faz qualquer negócio para jogar futebol”,
diverte-se o técnico José Gomes da Silva Filho,
que está no clube há 16 anos.
Gomes explica que não basta
exigir matrícula escolar. Tem de exigir desempenho.
“Não queremos que as crianças entrem na
escola para poder jogar e deixem os estudos de lado. A educação
é fundamental para a vida delas e tentamos deixar isso
bem claro durante os treinos.”
A marcação cerrada em
cima dos meninos traz bons resultados. Quase todos terminam
o ensino médio e, aqueles que não são
chamados para jogar em times profissionais, acabam cursando
uma faculdade. “O melhor prêmio para os nossos
esforços são os convites de formatura. Cada
um que recebemos é uma valiosa recompensa”, diz
Guimarães.
Conforme o ex-turfista, há casos de meninos que entraram
no clube com cinco anos de idade e saíram com 17. Formaram-se,
tornaram-se médicos, advogados, veterinários
e, hoje, não só levam seus filhos para jogar
na entidade como ajudam a manter o espaço com doações.
O Pequeninos do Jockey cobra mensalidade
simbólica de quem pode, mas grande parte de seus custos
são financiados por amigos, empresários e, principalmente,
ex-atletas. “Sempre ensinamos às crianças
a jamais se esquecerem do passado, a terem memória.
Se um dia alcançarem o sucesso, é importante
que elas se lembrem que alguém as ajudou e sejam gratas
por isso.”
Sonhos e melhoras
Na opinião de Sandra Maria R. Collado, seu
filho Gustavo, de 9 anos, ficou mais disciplinado e aplicado
nos estudos após entrar no clube. Mais do que isso.
Passou a ter sonhos. “Aqui, ele aprendeu a ter objetivos,
buscá-los e merecê-los.” Uma das metas
de Gustavo, segundo ela, é jogar na Europa, como os
meninos mais velhos do grupo. “Meu filho sabe que só
poderá ir com 16 anos, mas já está juntando
dinheiro para isso. Guarda cada centavo para poder comprar
sua passagem quando a idade chegar.”
O são-paulino Yacov Ramos Lélis
tem 6 anos mas também já possui sonhos. “Quero
ser jogador de futebol”, afirma. Fã de Luiz Fabiano,
atacante do Tricolor Paulista, Yacov diz decidido que estudará
bastante para que isso se transforme em realidade.
Atualmente, cerca de 600 crianças
e adolescentes treinam no clube. Mas, em 34 anos, mais de
150 mil garotos passaram pela instituição. “Já
chegamos a ter 3.600 crianças por ano”, comenta
Gomes. Ele acredita que o número de atletas diminuiu
devido ao aumento de escolinhas de futebol em toda a cidade.
“E se tivéssemos mais, não sei se conseguiríamos
sustentar o projeto por falta de verba.”
Ajuda
O campeão olímpico de vôlei,
Pampa, está organizando um show beneficente, que acontecerá
este mês, em prol da entidade. Embora não seja
ex-atleta do clube, ele afirma que “não tem como
ver um trabalho lindo desses e não querer ajudar.”
Para ele, se todos os jogadores que o Pequeninos já
revelou e exportou depositassem uma quantia todo mês,
o nome do clube seria Pequenos Gigantes e estaria rico. “Vinte
por cento do salário estava bom. Não precisava
mais do que isso”, brinca.
Para saber mais sobre o Clube Pequeninos
do Jockey, o site é www.pequeninos.com.br
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