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As ondas do rádio irão
agora disseminar o conceito da inclusão para crianças,
jovens e adultos todos os domingos, a partir das 14h. Foi
lançado, no último dia 3 de abril, o Programa
Oficineiros da Inclusão, uma parceria da ONG Escola
de Gente - Comunicação em Inclusão, com
sede no Rio de Janeiro, com a rádio MEC AM 800. O programa
é comandado por seis estudantes de Comunicação
e Ciências Sociais, que participam do projeto Oficineiros
da Inclusão, desde 2003, e estudam com a Escola de
Gente o conceito de sociedade inclusiva e o multiplicam para
outros jovens no Brasil e no exterior.
A proposta de parceria partiu da
rádio MEC, que está desenvolvendo uma nova grade
de programação baseada na cidadania e educação.
"Sugeri a aproximação da Escola de Gente
por considerar o trabalho deles à frente do nosso tempo.
Eles preparam jovens e contam com a participação
deles como multiplicadores de um conceito e isso é
muito importante, pois está se formando toda uma geração",
conta Liara Avellar, assessora da Gerência Executiva
da rádio, que acredita no poder do veículo para
divulgar um tema "de suma importância para o futuro
da sociedade".
"O rádio fala para
muita gente e este tema não pode ficar de fora, especialmente
numa emissora pública. Esperamos ajudar a divulgar
a temática da inclusão e melhorar o entendimento
da sociedade sobre a diversidade e a igualdade de direitos.
Principalmente mostrando que somos todos diferentes e que
este é o maior potencial do ser humano. E, por isso
mesmo, a sociedade deve ser pensada e construída para
todos", completa Liara Avellar.
Durante uma hora, os jovens irão
incentivar os ouvintes a debater sobre o conceito e a prática
de uma sociedade que não discrimine em função
de qualquer diferença. O foco principal é a
questão da deficiência. Toda a programação
conta com o apoio e respaldo de representantes do Ministério
Público Federal, como a procuradora da República
do Estado de São Paulo, Dra. Eugênia Augusta
Fávero e está de acordo com as resoluções
internacionais e a legislação brasileira sobre
a causa, como decretos que estabelecem normas gerais e critérios
básicos para a promoção de acessibilidade
das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
O programa traz entrevistas com especialistas,
notícias, serviços, opinião de ouvintes,
música e até esquetes divertidos e provocativos
que apontam como as pessoas se discriminam no dia-a-dia sem
perceber, feitos pelo grupo teatral "Os Inclusos e os
Sisos - Teatro de Mobilização pela Diversidade",
outro projeto da Escola de Gente, que busca abordar o tema
da inclusão por meio da ótica artístico-teatral.
A trilha sonora do programa é o Rap Oficineiros da
Inclusão, de autoria de vários artistas do movimento
Hip Hop brasileiro como Weelf, Jamile Suarths, Maryhuana,
Rico ZN e Refém.
No primeiro programa, os oficineiros
trataram sobre temas como o Museu de Imagens do Inconsciente,
um centro de referência na área de saúde
mental, que recebe todos os meses centenas de visitantes e
pesquisadores do Brasil e do mundo. O programa trouxe ainda
dicas sobre o 3º Congresso Mundial em Medicina de Reabilitação,
que acontece pela primeira vez no Brasil, entre os dias 10
e 15 abril, e debateu o caso de Kester Brito Silva, um rapaz
cego que foi agredido pelo motorista e cobradora de uma van,
em Brasília, por ter insistido em entrar no veículo
com seu cão guia.
Para ampliar o alcance do programa,
já que a rádio MEC atua prioritariamente no
Rio de Janeiro, a Escola de Gente disponibiliza, semanalmente,
em seu site (www.escoladegente.org.br), a transcrição
as atrações do programa. O site conta também
com as adaptações de acessibilidade, como lupa
e mudança de cor no fundo da tela, estas especialmente
úteis para pessoas com baixa visão. O programa
pode também ser ouvido pela internet, por meio do site
da rádio (www.radiomec.com.br). Em breve, com a recuperação
do transmissor de 100 KW da rádio, a transmissão
chegará também até parte do Espírito
Santo e Minas Gerais.
Sabrina Trica, estudante de Ciências
Sociais, oficineira da Escola de Gente e produtora do programa,
acredita que esta parceria foi um grande passo para a ONG,
principalmente pelo alcance que as informações
sobre a inclusão poderão ganhar sendo difundidas
no rádio e debatidas por meio de e-mails e telefonemas
direcionados ao programa, promovendo uma maior ligação
entre todos os setores que trabalham pela causa. "Agora,
podemos disseminar um conceito que poucas pessoas param para
pensar, até para motivar mesmo essa reflexão",
completa a jovem Marina Maria Ribeiro, estudante de Jornalismo,
oficineira e repórter do programa.
A jornalista e escritora Claudia
Werneck, presidente da Escola de Gente, destaca que o debate
sobre o tema é extremamente importante, tendo em vista
que a palavra "inclusão" está disseminada,
mas não o conceito real. Ela acredita que, atualmente,
há um uso leviano da palavra. "Nós, da
Escola de Gente, falamos de inclusão no sentido de
um conceito internacional mesmo. Isso porque, quando você
diz vamos direcionar as ações para os ´excluídos´,
como os negros, os deficientes, as mulheres, os homossexuais,
dá a impressão de que quem está ´incluído´
na sociedade está bem, de que eles não praticam
discriminação, de que não há problema.
Só que quando você ´coloca´ para
dentro do sistema que já não está bom
estas ´novas pessoas´ aí vira um caos total.
Ou seja, não é colocar para dentro quem está
fora, mas de reestruturação da sociedade. Quando
um ´incluído´ escolhe onde colocar um ´excluído´,
estamos a quilômetros de distância da inclusão",
comenta a presidente da entidade.
É preciso, portanto,
na opinião de Claudia Werneck, perceber que todos,
em algum momento da vida, podem estar ´incluídos´
e `excluídos´. "O conceito é algo
muito mais complexo, estrutural, onde esta sociedade não
admite processos excludentes. O problema é que há
a valorização, muitas vezes, do exotismo e não
da diversidade. Ou seja, não houve mudança de
mentalidade".
Três anos de
luta pela inclusão
Mudar essa visão sobre a inclusão é o
que busca a Escola de Gente, que completa três anos
de atuação, no próximo dia 11 de abril.
A entidade foi fundada em 2002, a partir do trabalho de Claudia
Werneck na área de inclusão, com a mobilização
de diversos profissionais da comunicação e de
outras áreas. A organização atua para
que a comunicação seja colocada a serviço
da inclusão de grupos vulneráveis na sociedade,
principalmente pessoas com deficiência. Cláudia
conta que o nome Escola de Gente foi escolhido pois os participantes
são seguidores incondicionais de gente, ou seja, uma
condição que não é perdida nunca,
e, portanto, não justifica qualquer tipo de discriminação.
A ONG desenvolveu uma metodologia,
chamada Oficina Inclusiva, a favor da mentalidade inclusiva.
Durante três horas, os participantes - pessoas com ou
sem deficiência - conhecem o conceito de inclusão
e realizam dinâmicas e jogos que levam a vivências
sobre a chamada ética da diversidade. Foi a partir
dessa metodologia que surgiu o projeto Oficineiros da Inclusão,
a fim de envolver os jovens nestas discussões. "O
jovem é um ser com uma ética mais protegida,
além de ser muito mais forte e flexível. Ele
sim está preparado para inovar. Trabalhar com jovens
é um estimulo para nós porque você recebe
um retorno na hora, de comprometimento e desejo de mudança",
comenta a presidente da entidade.
O projeto Oficineiros da Inclusão
conta com jovens entre 18 e 25 anos capacitados para realizar
as oficinas para outros jovens no Brasil e no exterior. A
ONG já realizou mais de 200 oficinas inclusivas, não
só no Brasil, mas também no Peru, Paraguai e
México, sendo que 50 foram comandadas exclusivamente
pelos jovens. A mudança de visão sobre a inclusão
é evidente. Sabrina Trica conta que, até conhecia
algumas pessoas portadoras de deficiência antes de entrar
na entidade, mas nunca havia parado para pensar a respeito
do assunto. "Hoje eu reparo, em qualquer lugar que eu
vou, se o espaço é acessível ou não.
Fico pensando: como essa pessoa faz para passear no shopping
ou ir à universidade? É muito difícil!",
comenta.
Na opinião da estudante de Jornalismo Marina, o problema
é que a sociedade não prioriza a diversidade,
tentando homogeneizar as pessoas. "Me incomoda muito
estes parâmetros e padrões impostos. A inclusão,
no entanto, diz: somos diferentes e ponto. Mas é difícil,
porque não estamos acostumados a lidar com pessoas
portadoras de deficiência no nosso dia-a-dia",
destaca contando que pretende mostrar que os jovens podem
sim contribuir para a transformação da sociedade.
"Eu quero ser agente mesmo". Agora, o grupo está
elaborando um projeto para conquistar novos parceiros e ampliar
as ações com mais recursos.
Serviço:
Escola de Gente - Comunicação em Inclusão
Endereço: Av. Fleming, 200, Barra da Tijuca - Rio de
Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2493-7610
E-mail: escoladegente@attglobal.net
Programa Oficineiros da Inclusão:
Os ouvintes podem participar enviando e-mail: oficineirosdainclusao@radiomec.com.br
ou ligando para a Central de Atendimento ao Ouvinte, de segunda
a sexta-feira pelo telefone (21) 2252-8413 .
DANIELE PRÓSPERO
do site setor3
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