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LONDRINA (PR) - Um grupo de 14 ex-trabalhadoras
rurais, moradoras do jardim Franciscato na região sul
de Londrina, se uniu no início da década de
1990 para formar uma associação pela qual pudessem
lutar pelos direitos mais básicos como acesso à
escola, saúde e moradia. Da união por causa
da necessidade, nasceu - conforme a presidente do grupo, Rosalina
Batista " o Clube de Mulheres Batalhadoras do Jardim
Franciscato, hoje Associação das Mulheres Batalhadoras.
"Nós buscamos a integração das mulheres
na sociedade, participando com uma metodologia de política
social", ensina.
Rosa, como é chamada pelos
amigos e familiares, é uma pessoa que conserva hábitos
muito simples. Ela tem dificuldade na pronúncia das
palavras, conseqüência de quem cursou apenas a
2ª série do ensino fundamental, mas as experiências
adquiridas por meio de vários congressos nacionais
e internacionais (Chile e Estados Unidos, por exemplo) que
participou, deram a ela respaldo para poder representar a
associação e contar as muitas conquistas que
teve desde o início da associação.
Inicialmente as batalhadoras se reuniam
na casa das integrantes do grupo e, com o tempo e a necessidade,
sentiram que precisavam de uma sede própria. Para isso,
a associação fez com parcerias para a compra
de um terreno. "No inicio, a estrutura da associação
era precária. As reuniões de planejamento eram
realizadas cada dia na casa de uma das integrantes",
afirma Rosalina Batista.
Depois de uma articulação
com a Prefeitura de Londrina e o projeto Uni, da Universidade
Estadual de Londrina, as mulheres conseguiram financiamento,
por meio da fundação americana Kellogg, e assim
nasceu o mais ambicioso projeto da associação.
Era 27 de julho de 2002, quando foi inaugurada a Biblioteca
Virtual, instalada em um prédio de dois andares com
seis salas.
Entre as atividades desenvolvidas
no local, destacam-se ações voltadas para a
terceira idade e os cursos de capacitação em
culinária, informática, cabeleireiro e artesanato.
Segundo a presidente só no ano passado 600 pessoas
foram preparadas para o mercado de trabalho. Rosalina diz
ainda, que a renda para manutenção das despesas
vem dos produtos artesanais comercializados em toda a cidade.
Os cursos, conforme Rosalina, têm
dado resultado. A ex-aluna de culinária Clauricéia
Batista Antunes, apesar de não trabalhar na área
durante a semana, aos sábados e domingos dá
aulas de como desossar frango. "Eu fiz o curso para ser
desenvolvido apenas dentro de casa, mas existe dentro de mim
a necessidade de doar meu conhecimento para ajudar na inclusão
social de nossa comunidade", comenta.
A Biblioteca Virtual também
atrai voluntários que repassam seus conhecimentos para
os alunos da entidade. Entre eles o dentista Paulo Eduardo
Sartori que atende a população todos os sábados
das 14h às 18h. "Já desenvolvo esse tipo
de trabalho há alguns anos. É para retribuir
tudo aquilo que já consegui", afirma.
Novas metas
Entre os projetos desenvolvidos pela Biblioteca Virtual,
Rosalina Batista destca o "Vídeo Cidadão",
coordenado pelo jornalista e videomaker Luciano Pascoal. O
projeto, desenvolvido na área de vídeo alguns
anos atrás, tinha o objetivo de despertar nos jovens
da comunidade o interesse em denunciar o descaso cometido
pelo homem com o meio ambiente. "Foi uma experiência
fantástica. Foi uma honra trabalhar com a Rosalina
e sua comunidade", ressalta Pascoal.
Rosalina afirma que a Secretaria Estadual
de Meio Ambiente (Sema) demonstrou interesse para no segundo
semestre deste ano, implantar uma escola ambiental no prédio
da associação e, assim, dar suporte para a continuação
do projeto que contou com recursos municipais pela lei de
incentivo à cultura.
Ainda na área de comunicação,
as batalhadoras têm o objetivo de instalar uma Rádio
Mulher que, segundo elas, pode fortalecer o movimento feminino
e as organizações comunitárias de mulher.
Para isso, é necessária a contribuição
da comunidade na captação de recursos para a
compra de equipamentos e viabilização de profissional
técnico. "Vamos tentar parcerias com as universidades",
afirma a presidente.
CRISTIANO SILVA
do jornal Online Comtexto (jornal laboratório dos estudantes
de jornalismo da Universidade Norte do Paraná )
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