A partir
de uma iniciativa aparentemente simples -- a abertura das
escolas nos finais de semana – é possível
constatar os bons resultados da difusão concreta da
cultura de paz e combate às desigualdades. No ambiente
escolar, os jovens – especificamente em situação
de vulnerabilidade social – têm menos chances
de se expor à violência e mais oportunidades
de acesso à educação, à cultura
e ao lazer. Os números comprovam essa premissa: depois
do programa Escola da Família, a queda nas ocorrências
contra a pessoa e o patrimônio alcançou 39,5%
em comparação ao ano anterior. Destacam-se aí
indicadores que apontam redução de 46,5% nas
agressões físicas, de 57% nos homicídios
e acima de 81% no porte de drogas. O mesmo acontece nas vizinhanças
das escolas, com redução de 36% nos índices
gerais de violência.
Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos de Violência
da Universidade de São Paulo em 2002 apontava que quanto
menor a oferta de cultura, lazer e esporte, mais altas eram
as taxas de homicídio. Além disso, os dados
indicavam que os pólos com esses serviços estavam
concentrados nas regiões periféricas das grandes
cidades. A proximidade entre os locais de lazer e as residências
ampliaria o acesso da comunidade a esses serviços,
reduzindo os índices de violência.
A abertura das escolas estaduais nos finais de semana não
só alterou essa realidade violenta, como melhorou o
rendimento dos alunos, aumentando a cumplicidade e a confiança
entre os membros da comunidade.
Os números das pesquisas mensais realizadas pela Secretaria
de Estado da Educação confirmam a redução
sistemática das ocorrências desde a implantação
do Escola da Família, em agosto de 2003. A comparação
entre os dados de setembro de 2002 a março de 2003,
antes da implantação do programa, com os respectivos
meses de 2004 e 2005 aponta redução expressiva
em todos os índices.
Os dados revelam também a preocupação
e o cuidado da comunidade com a escola. As depredações
cairam em 34,6% e as pichações 35,3% e invasões
37,2%. Nas ocorrências contra pessoa, a redução
é ainda mais significativa: os homicídios caíram
57,1%, os furtos em 45,5%, o porte ilegal de arma, 38,1%,
as agressões físicas, 46,5%, e o porte de drogas,
81,3%.
Além dos muros
Um levantamento complementar mostra que o envolvimento
da comunidade vizinha à escola foi decisivo para a
queda da violência em cada região. Uma análise
comparativa entre o período de setembro de 2002 a fevereiro
de 2003 com setembro de 2004 a fevereiro de 2005, indica redução
de 36% nas ocorrências policiais globais registradas
nas imediações da escola. As ocorrências
contra a pessoa, incluindo agressões físicas
e homicídios, caíram pela metade.
Os resultados do Escola da Família também se
refletem na queda nos índices de violência dos
municípios. Na Capital, por exemplo, estatísticas
da Fundação Seade confirmam essa tendência:
a cidade de São Paulo registrou diminuição
de 35,25% no número absoluto de homicídios,
na comparação entre os anos de 2000 e 2004.
Dia a dia cada vez melhor
Os relatos de quem vive esta nova realidade nas escolas
ultrapassam a frieza dos números. Eles mostram de forma
efetiva não só redução na violência,
mas a mudança no relacionamento entre professores e
alunos e na relação da escola com a comunidade.
Há dois anos, a Escola Estadual Dr. Genésio
de Almeida Moura, na zona Norte da capital paulista, era alvo
de depredações, pichações e furtos.
Vidros quebrados, paredes escondidas pela tinta da barbárie.
“Não conseguíamos nos aproximar dos jovens
que causavam inúmeros problemas, inclusive o de uso
de drogas”, lembra José Carlos Nery Santos, assistente
técnico pedagógico. “A partir do momento
em que abrimos a escola nos fins de semana, a comunidade e
os alunos se conscientizaram que o espaço era deles
e para eles”, avalia o educador, animado com a redução
nos índices de violência depois da implantação
do programa.
Nery, coordenador de área do Escola da Família,
destaca também o grau de freqüência nos
fins de semana. “Registramos uma média de 500
participantes nas atividades da escola, com pessoas de todas
as idades”, conta. Além de atividades esportivas,
a escola oferece oficinas de padaria artesanal e aulas alfabetização
para os pais.
Os bons resultados obtidos com a implantação
do programa na escola Genésio de Almeida Moura também
são testemunhados pela comunidade. “Antigamente
nossos filhos ficavam na rua jogando bola. E a rua sempre
é perigosa. Agora, com a abertura das escolas, essas
crianças têm um espaço seguro”,
diz Rogério Aparecido da Silva, vizinho e pai de aluno
da escola.
Kátia Aparecida Bertolotti, ex-aluna, ex-professora
e atual diretora da escola Ovídio Pires de Campos,
em Santo André, também conta as dificuldades
que enfrentava antes do Escola da Família. A quadra
de esportes era constantemente invadida nos fins de semana
e a escola tinha problemas de depredações e
furtos. “O programa oferece à comunidade, carente
de opções de lazer, um espaço para a
amizade”, analisa a diretora. “E aqui nós
conseguimos zerar os índices de depredação
e furto”, comemora. Afinal, hoje a quadra está
aberta. Não é necessário invadi-la.
Um outro aspecto destacado pela diretora é a melhoria
no desempenho escolar. Segundo Kátia, o programa possibilitou
uma aproximação da escola com os alunos e com
a comunidade, gerando confiança entre todos. “Confiança
e cumplicidade são dois fatores essências para
o diálogo, o que melhora a disciplina dos alunos e,
conseqüentemente, seu rendimento escolar”, ensina.
ANA VENERANDO
EGLE CISTERNA
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