Erika
Vieira
especial para o GD
“Participo dessa causa para que no futuro meu filho
não passe pelo preconceito que está acontecendo
hoje”, declarou o coordenador do Curso Pré-Vestibular
Comunitário Educafro, durante o Ato organizado na tarde
de ontem pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo
São Francisco em decorrência da acusação
de racismo feita ao Centro Acadêmico XI de Agosto. "Se
não fossem escravizados, os negros não teriam
sido trazidos ao continente americano. Por pior que estejam
aqui atualmente, estão melhores do estariam na África
hoje”, essa é a tese considerada de cunho racista
por parte da sociedade e que foi publicada no jornal “Gazieta”
produzido pela “Escória”, atual direção
do centro acadêmico.
A direção do XI de agosto declara que não
houve intenção de ofender ninguém. “A
Escória mostra o racismo e o preconceito de maneira
caricata para ‘quebrar as pernas’ do preconceito.
A piada foi feita para rir em primeiro momento, mas logo após
parar e pensar a respeito”, explica o presidente da
Escória, Fernando Boris Filho.
“O racismo se revela por essa piadinha, é difícil
encontrar de maneira mais explicita um jornal dizendo ‘Morte
aos Negros’. Todo mundo ouve piadinha homofóbica
e dá risada, esse tipo de piada revela esse pensamento”,
fala Boris Calazalns, aluno do 4º ano.
O Movimento Negro Unificado (M.N.U) pediu a destituição
da direção da Escória no XI de Agosto.
“A maioria dos jovens mortos são negros, conseqüência
do crime de racismo. Devemos manter a convivência com
racistas desse tipo intransigivel dentro da faculdade”,
diz Regina Lúcia dos Santos, Coordenadora Municipal
do M.N.U. Reflexões do sociólogo Florestan Fernades
em favor da classe negra foram lembradas pelo representante
da instituição Círculo Palmarino e ex-diretor
do Diretório Central dos Estudantes (D.C.E) da USP,
Fábio Nogueira, que fez um apelo para que a imagem
da Universidade não fique manchada com esses acontecimentos.
No “Gazieta” também contém manifestações
consideradas pejorativas às mulheres e aos homossexuais.
A associação da parda GLBT esteve presente e
declarou fazer uso da lei 10.948 que penaliza atos de discriminação
em razão da orientação sexual de qualquer
individuo, para enquadrar a Escória. A representante
da GLBT, Regina Farcchini contou que já esteve antes
na faculdade para debater sobre a diversidade sexual e que
nunca imaginou ter que usar essa lei contra estudantes. “Sou
estudante do curso de letras e sei muito bem os códigos
lingüísticos para dizer o significa dessas expressões”,
alegou Dário Neto aluno de mestrado da USP e membro
do Prisma, órgão vinculado ao D.C.E.
“Me sinto péssimo quando entro nessa faculdade.
Passo reto, não olho para ninguém”, desabafou
o aluno do 4º ano de direito Fábio Araújo,
que reclama da discriminação que sofre por ser
homossexual. Ele ainda citou versos da banda Smitchs para
expressar seu descontentamento: “Eu já vi isso
[preconceito] acontecer na vida de outras pessoas e agora
está acontecendo na minha”. Já Lívia,
bissexual e integrante da Escória, disse que nunca
foi tratada com desrespeito pelos companheiros.
A Marcha Mundial das Mulheres pediu que às futuras
advogadas defendessem os direitos das mulheres. A aluna Marina
Menezes do 5º ano, disse que já se sentiu discriminada
inúmeras vezes dentro do ambiente universitário
e sugeriu a abertura de um inquérito contra o XI de
Agosto. A Secretaria da Justiça também esteve
presente e informou que o órgão para processo
de discriminação homofóbica está
à disposição da sociedade.
O Ato foi encerrado com todos clamando: “Che, Zumbi,
Antônio Conselheiro, na luta por justiça somos
todos companheiros. “Amanhã (24/06) terá
continuidade do Ato contra a discriminação na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco, às
14 horas.
Lei
Estadual 10.948/2001
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