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A falta de investimentos nas universidades criou no ensino
superior um quadro de precariedade que atinge dos laboratórios
às salas de aula, deixa prédios sem manutenção
e instituições carentes até de livros
didáticos.
Os estudantes das universidades federais brasileiras vivem
uma contradição. Responsáveis por 90%
da pesquisa realizada no Brasil, as federais sofrem com a
falta de laboratórios e de professores efetivos. Como
parte dos problemas, os servidores têm realizado greve
há mais de 40 dias, e os professores continuam a aprovar
indicativos de greve.
Este é o caso, por exemplo, da UFBa (Universidade Federal
da Bahia), que está com as contas de água, energia
e telefone atrasadas, laboratórios defasados tecnologicamente,
salas com infiltração e banheiros entupidos.
"Fechamos o ano passado com um déficit de R$ 10
milhões. Acho que vamos chegar em dezembro com o mesmo
valor", disse o vice-reitor da instituição,
Francisco Mesquita.
Segundo ele, a crise financeira se reflete no aprendizado.
"É evidente que existe o prejuízo acadêmico.
Mesmo com todos os esforços dos professores e diretores,
a UFBa não tem dinheiro para nada."
Diretor da UNE (União Nacional dos Estudantes) e aluno
de ciências sociais da UFBa, Rogério Silva, 24,
disse que a universidade baiana apresenta até "fiações
elétricas expostas dentro das unidades", além
de banheiros que são "uma vergonha".
Na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), no
interior de São Paulo, os 7.200 estudantes lidam com
computadores obsoletos, déficit de docentes e servidores,
falta de livros didáticos na biblioteca e investimentos
escassos em moradias no campus.
A UFSCar enfrenta uma greve de funcionários há
39 dias. Segundo o reitor Oswaldo Baptista Duarte Filho, 54,
hoje há um desfalque de 90 docentes e de 250 funcionários.
Os cargos estão vagos. As aulas são assumidas
de forma provisória por professores substitutos contratados
por no máximo dois anos. Já no caso dos funcionários,
aqueles que continuam trabalhando acumulam funções
para atender à demanda.
Gargalo
"Hoje há menos funcionários e
docentes do que em 1991, sendo que de lá para cá
a universidade teria praticamente dobrado o seu número
de vagas. A parte de pessoal é, sem dúvida,
o gargalo da instituição", afirma ele.
O parque de informática -com cerca de 3.000 computadores-
não recebe investimentos do governo federal há
sete anos.
Na biblioteca, faltam livros didáticos. Nos 200 prédios
da universidade, sobram vazamentos nos banheiros e paredes
com pintura desgastada.
A UFC (Universidade Federal do Ceará) lida todo mês
com a falta de R$ 400 mil para manutenção. As
dívidas da universidade chegam a cerca de R$ 7 milhões,
e entre os credores estão companhias de água,
luz, telefone e empresas terceirizadas para manutenção
e segurança.
Apesar das dívidas, o pró-reitor de Planejamento
da UFC, Ciro Nogueira, comemora a perspectiva de mais verbas
no próximo ano. Está projetado, no orçamento
de 2005, um aumento nas remessas previstas para custeio das
federais: de R$ 470 milhões para cerca de R$ 800 milhões.
Para piorar o problema, os professores da UFC anunciaram ontem
indicativo de greve, e a paralisação das aulas
pode acontecer a qualquer momento.
Vazamentos na reitoria e ameaça de desabamento do telhado
do colégio de aplicação, onde estudam
cerca de 500 alunos, estão entre os motivos que levaram
ontem a Brasília o reitor José Fernandes de
Lima, da Universidade Federal de Sergipe, para pedir mais
recursos.
Segundo ele, seriam necessários R$ 100 mil para os
consertos.
"Ao longo dos anos a verba vem diminuindo, gerando dificuldades.
Com isso, as universidades vão deixando de consertar
paredes, telhados, não fazem expansão. Quando
menos esperamos, estamos com uma série de deficiências",
disse Lima.
O reitor lembra ainda que os gastos com tarifa pública,
como água, luz e telefone, vêm tendo um peso
cada vez maior nos custos das instituições federais.
A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) é um
exemplo disso. A reitora Ana Lúcia Gazzola, que também
é presidente da Andifes, disse, em várias ocasiões,
que não pode ampliar as vagas em cursos noturnos porque
o custo da energia elétrica é maior à
noite.
As federais do Rio de Janeiro e de Pernambuco estão
entre as instituições que dizem precisar melhorar
os laboratórios. Às vezes há falta de
material, além de equipamentos antigos ou com defeito,
segundo a Andifes.
As informações são
da Folha de S.Paulo.
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