O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva retomará sua campanha
política de combate à pobreza mundial neste
dia 20 em Nova York, com uma proposta que se pretende mais
concreta e "palatável" aos países
ricos para o financiamento de projetos de desenvolvimento.
Em reunião com 54 líderes mundiais na sede da
ONU (Organização das Nações Unidas),
Lula tentará abrir as negociações sobre
as propostas de taxações internacionais de transações
financeiras e de produção de armamentos. O objetivo
é enfrentar o déficit de US$ 50 bilhões
por ano em investimentos necessários para cumprir as
Metas do Milênio até 2015.
As duas idéias, antigas na agenda internacional, enfrentam
grande resistência por parte de críticos e governos
em todo o mundo. Os EUA já indicaram posição
contrária à taxação de transações
financeiras, e a França se declarou em janeiro contrária
à taxação de armas, por ser um país
produtor.
Lula tentará pautar seus colegas com o relatório
final do grupo de trabalho internacional criado em janeiro
e composto por brasileiros, franceses, chilenos, espanhóis
e diplomatas da ONU. Segundo o governo brasileiro, a meta
de Lula é forçar uma mobilização
política a respeito de mecanismos concretos de financiamento.
Para isso, já estão abandonadas idéias
anteriores, como a criação de um Fundo Internacional
de Combate À Pobreza e uma nova instituição
internacional para gerir os recursos.
Todas as propostas, diz o governo, respeitarão a soberania
dos países arrecadadores e contarão com compromissos
de estratégia desenvolvimentista e de governança
dos beneficiados. "A resistência de um país
ou outro não impede uma discussão internacional
transparente sobre as propostas. É natural que os Estados
Unidos se oponham à taxação internacional
por questões internas, mas isso não é
motivo para não sentar na mesa", disse Maria Nazareth
Azevedo, assessora de assuntos multilaterais do Itamaraty.
O relatório discute a taxação de movimentações
financeiras, proposta inicialmente como uma espécie
de CPMF mundial, na forma de uma taxa de 0,01% sobre transações
cambiais. Essas atividades movimentaram US$ 1,17 trilhão
por dia em 2001. O Brasil estima que uma taxa desse tipo arrecadaria
hoje entre US$ 17 e US$ 30 bilhões ao ano, sem perturbar
muito os mercados financeiros e reduzindo a especulação.
A proposta de taxação do comércio internacional
de armamentos focaliza os armamentos pesados, que são
registrados na ONU, ao contrário das armas leves, cuja
produção é pulverizada. Segundo o Instituto
Internacional de Pesquisa de Paz de Estocolmo, o investimento
militar mundial aumentou 18% de 2002 a 2004, chegando a US$
1 trilhão ao ano.
LEILA SUWWAN
da Folha de S.Paulo
|