Esqueça segredos industriais e ferramentas miraculosas
de controle financeiro. O grande investimento das corporações
será num recurso que elas têm desde a primeira
empresa criada no mundo: gente. A opinião é
compartilhada por renomados consultores brasileiros e estrangeiros,
que participaram ontem da Expo Management World, em São
Paulo.
"Hoje, o principal ativo de uma empresa é o capital
humano. Quem sacrificar isso tenderá a morrer. Pode
demorar cinco a dez anos no caso de uma grande companhia,
mas ela tende a morrer ou ser engolida por outra empresa",
alerta o consultor holandês Arie de Geus, que trabalhou
38 anos na Shell, inclusive no Brasil.
Outro guru, o americano Thomas Stewart, especialista no tema
capital intelectual as idéias usadas para gerar
riqueza faz uma ressalva: esta é a era dos empregados,
sim, mas daqueles que realmente têm talento. Segundo
ele, até a década de 70 era mais fácil
substituir trabalhadores, e o capital (nesse caso, os donos
das empresas) ganhou a luta contra o trabalho. Ao longo da
década de 80, os sindicatos perderam força,
e hoje o conflito é entre capital e talento.
"Isso é interessante, mas socialmente perigoso.
Os sindicatos conseguiam estabelecer uma espécie de
média (de salários). Hoje há mais diferença
na distribuição de renda", diz Stewart.
O presidente da consultoria FranklinCovey no Brasil, Paulo
Kretly, afirma que, se estamos no período das informações
que circulam livremente, a próxima era é a da
sabedoria: transformar o conhecimento em ação,
filtrando as informações. Em outras palavras,
será a vez do talento.
A consultora Maria Silvia Bastos Marques, que já presidiu
a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), tem uma receita:
sempre trabalhar com gente melhor do que ela. Maria Silvia
concorda que o grande diferencial de uma empresa é
seu pessoal, pois o resto é commodity (mercadoria),
que se compra. Ela ressalta que na época de bonança
os funcionários podem não ser um diferencial
tão grande, mas nas épocas mais duras, sim.
Geus lembra que as empresas em ascensão hoje são
exatamente aquelas pobres em capital e ricas em intelecto,
como consultorias e escritórios de advocacia.
O investimento prioritário no funcionário não
foi exatamente o que mundo viu recentemente, com as demissões
em massa nas empresas. E muita gente tremia só de ouvir
falar em uma consultoria ajudando a reestruturar sua empresa,
pois a receita certamente incluiria demissões.
Para Kretly, essa fase de demissões nas empresas está
passando (já haveria até recontratações),
e é hora de capacitar as pessoas que ficaram para torná-las
mais produtivas.
" Se precisar fazer uma reestruturação,
uma empresa deve tentar manter o maior número de funcionários
que puder", aconselha Geus.
17% de devolução
O eco das demissões ainda é forte nas empresas,
e há muitas questões que Kretly considera grotescas
a serem resolvidas. Pesquisas feitas pela FranklinCovey com
empresas americanas mostraram que apenas 17% dos funcionários
faziam suas atividades pensando no desenvolvimento da companhia.
Outras curiosidades: menos de 40% confiavam em seus líderes
e 48% ainda não estavam à vontade para expressar
o que sentiam dentro da empresa.
MARIA FERNANDA DELMAS
do jornal O Globo
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