BRASÍLIA
- Dinheiro para a educação. Esse deve ser um
dos principais assuntos do Encontro de Alto Nível da
4.ª Reunião Mundial de Educação
com ministros de 30 países, que começa hoje
em Brasília. A falta de recursos para garantir qualidade
à educação nos países em desenvolvimento
- especialmente nos mais pobres - tem diminuído as
chances do mundo alcançar, até 2015, as metas
acertadas pelas Nações Unidas com 160 países
para melhoria do ensino na Conferência Mundial de Educação
em Dacar, em 2000.
Dados da Organização das Nações
Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(Unesco) apontam que hoje faltam, por ano, US$ 4,5 bilhões
aos países mais pobres apenas para atingir a universalização
do ensino primário (que no Brasil vai da 1.ª à
8.ª série). Ao firmar o compromisso de Dacar,
em 2000, os chamados países doadores - Estados Unidos,
Japão, França, por exemplo - garantiram que
não faltariam recursos mundiais para melhoria da educação.
No entanto, o dinheiro não tem aparecido.
A reunião no Brasil é a quarta de uma séria
de avaliações mundiais que vêm sendo feitas
desde 2000. Será apresentado, no encontro, o relatório
de monitoramento global das metas a serem cumpridas nos próximos
10 anos. Para a maior parte dos países em desenvolvimento,
as notícias não são boas. E, mesmo onde
houve melhorias, como no Brasil, ainda existem problemas.
As metas acertadas vão desde a universalização
da educação primária - tarefa que o Brasil
já cumpriu - até a redução em
50% do analfabetismo e a melhoria da qualidade do ensino,
duas áreas em que o País tem andado devagar.
"A educação precisa deixar de ser apenas
importante na maior parte dos países para ser prioridade
dos governos. Os países que tiveram avanços
econômicos importantes passaram a considerar a educação
prioritária e fizeram os investimentos adequados a
isso. É preciso parar de ver a educação
como um gasto e ver como um investimento de alto retorno",
disse o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein.
Sintoma
O encontro que começa hoje no Itamaraty, com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva falando na abertura,
mostra um sintoma da dificuldade de encaixar o tema na agenda
econômica dos países. Apesar da presença
do presidente brasileiro, nenhum dos ministros da área
econômica convidados - entre eles o ministro da Economia
argentino, Roberto Lavagna, e o ministro da Fazenda do Brasil,
Antonio Palocci - aceitou o convite para tomar parte dos debates.
Logo depois da reunião, que termina na quarta-feira,
começa imediatamente um outro encontro com o Banco
Mundial, para tratar do financiamento da educação.
Chamado de iniciativa Fast Track, o programa pretende encontrar
caminhos para acelerar a inclusão educacional nos países
mais pobres. E, dessa vez, encontrar formas de cobrar dos
doadores o investimento efetivo de recursos nas áreas
mais carentes do mundo.
LISANDRA PARAGUASSÚ
do jornal O Estado de S.Paulo
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