Quase
mil alunos resolveram participar voluntariamente do Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), muitos deles
acreditando que suas boas notas ajudariam a faculdade ou universidade
onde estudam. A prova - que substitui o Provão - não
obriga a participação de todos os formandos
pela primeira vez em nove anos. Foram selecionados 156 mil
alunos por amostragem e aberta a possibilidade para voluntários
também realizarem o exame, sem que suas notas fossem
consideradas. Estudantes ouvidos pelo Estado, no entanto,
dizem que faculdades e universidades os convocaram para o
exame do Ministério da Educação (MEC).
"Achei que ia subir a nota da faculdade", diz Rodrigo
Vieira, de 22 anos, que se forma este ano em Veterinária
e aceitou fazer a prova. Ele foi informado pela reportagem
de que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep/MEC) não computaria sua nota na média
do curso. "Desisti de participar de uma seleção
da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
no mesmo dia só para fazer Enade", lamentou.
Segundo ele, coordenadores da UPIS Faculdades Integradas,
de Brasília, pediram que ele e outros dois colegas
participassem do exame. A Assessoria de Imprensa da instituição
diz que alguns se voluntariaram, mas que havia clareza de
que as notas não seriam consideradas.
"Não temos certeza se o desempenho deles vai
pesar na nota da faculdade ou não", diz a secretária-executiva
da Faculdade de Medicina do ABC, Nidia Caivano, sobre os voluntários.
Aluno da instituição, Alexandre Den Julio, de
24 anos, foi um dos que optaram voluntariamente por fazer
a prova no domingo. "Estou me preparando para vários
exames de residência médica e assim posso testar
meus conhecimentos", justifica. Apesar de dizer que esse
não era seu principal motivo para participar, ele acreditava
também estar ajudando a faculdade.
Diferença
O Enade faz parte do novo método foi criado pelo governo
de Luiz Inácio Lula da Silva e integra também
o novo Sistema Nacional da Avaliação da Educação
Superior (Sinaes). A prova de domingo vai testar o conhecimento
de estudantes, enquanto as outras duas etapas do Sinaes -
auto-avaliação e avaliação externa
- examinarão a estrutura, o corpo docente e outros
elementos do cursos.
Uma das diferenças com relação ao antigo
Provão é que o Enade terá - além
dos formandos - a participação de estudantes
no início do curso, para medir quanto cada curso agrega
ao aluno. Apenas estudantes da área de saúde
farão o primeiro Enade. Os cursos avaliados serão:
Agronomia, Educação Física, Enfermagem,
Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina
Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço
Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia.
Segundo o coordenador do Enade, Amir Limana, as instituições
foram devidamente informadas de que a nota dos voluntários
não seria considerada. Esses alunos, porém,
conhecerão seu próprio desempenho na prova e
concorrerão, assim como os outros, a bolsas de mestrado
dadas aos melhores colocados. Limana diz que a amostragem
- feita aleatoriamente - contemplou 60% do universo e que
918 alunos se inscreveram sem terem sido chamados. "Se
os voluntários fossem considerados perderia todo o
sentido da amostra."
Contribuição
Apenas um dos outros cinco voluntários ouvidos pelo
Estado disse saber que sua nota não seria considerada.
Um dos que desconheciam o fato cursa a Universidade Federal
do Paraná, ligada diretamente ao MEC.
Aritana Alves de Paula, de 19 anos, está no primeiro
ano de Fisioterapia e disse que faria a prova porque "é
um dever do estudante contribuir para que sua universidade
seja bem-vista". Ela estuda na Universidade de Rio Verde,
em Goiás, e seu pró-reitor de graduação,
César Romero, diz que a moça não foi
influenciada a participar do Enade. "É uma ótima
aluna, mas ninguém disse a ela que sua nota contaria."
RENATA CAFARDO
de O Estado de S.Paulo
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