Priscila
Gomes Freitas, de 18 anos, vem de uma família de baixa
renda da Bela Vista, na capital paulista, e estuda jornalismo
na Universidade Metodista de São Paulo. Sem recursos,
ela se vale do projeto Geração XXI, desenvolvido
pelo BankBoston, que financia os estudos de 21 jovens negros
até o fim da universidade.
"Minha vida mudou bastante. Sem esse projeto, eu estaria
estudando, mas trabalhando também. Conciliar as duas
coisas é possível, mas um pouco difícil",
diz ela, filha de um vendedor de eletrodomésticos e
de uma dona de uma pequena confecção.
O Geração XXI é a parte mais visível
de um programa do BankBoston que, assim como outras empresas
brasileiras – de grande, médio ou pequeno porte
–, investe em responsabilidade social.
Há quem confunda responsabilidade social com filantropia,
e os projetos sociais não são o único
componente da responsabilidade social.
Investimento
"A filantropia, seja por parte da empresa ou
do empresário, destina parte do lucro para o investimento
social. Na responsabilidade social de empresas, o que se busca
é que a própria atividade econômica seja
geradora de riqueza para a sociedade e para o meio ambiente",
define Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituo Ethos,
criado há cinco anos para difundir o conceito de responsabilidade
social entre os empresários.
O retrato mais preciso da responsabilidade social de empresas
no Brasil mostra que R$ 4,7 bilhões foram investidos
nessa área em 2000, de acordo com as estatísticas
mais recentes. Esse total representa 0,43% do PIB brasileiro
e tende a crescer, segundo a socióloga Anna Peliano,
que coordenou a pesquisa, feita pelo Ipea.
Um livro com os detalhes desse estudo será lançado
até o fim do ano. Com o nome de "Iniciativa privada
e o espírito público - Ação Social
das Empresas Privadas no Brasil", ele vai trazer uma
radiografia de todo o país e não apenas de cada
região, como suas edições anteriores.
Só para comparar: nos Estados Unidos, os recordistas
mundiais nesse quesito, as empresas desembolsaram US$ 10,1
bilhões (o equivalente a R$ 30,3 bilhões) em
ações de responsabilidade social no mesmo ano.
Ou 0,11% de seu PIB.
Peliano ressalta que a comparação deve levar
em conta que o estudo americano foi feito com outra metodologia.
Ainda assim, ela acredita que o Brasil está indo por
um bom caminho.
"Eu me surpreendi com o grande volume de recursos que
as empresas investiram nessa área. Também me
surpreendi com o percentual de empresas que fazem algum tipo
de ação para a comunidade: 59%", afirma.
"E até as pequenas empresas também dão
a sua contribuição. É claro que nós
estamos falando de ações muito diferenciadas.
Vão desde pequenas doações eventuais
até projetos bem estruturados. De qualquer forma, o
que isso sinaliza é uma disposição de
contribuir de uma forma ou de outra para a sociedade."
Bondade ou interesse?
A socióloga é autora do livro Bondade
ou interesse? Como e porque as empresas atuam na área
social. Ela afirma que a motivação das empresas
não se dá apenas por bondade nem só por
interesse.
"Nem uma coisa nem outra exclusivamente. Uma série
de fatores vem levando as empresas a aumentarem sua participação
na área social. Por um lado tem, sim, a questão
humanitária, a vontade de ajudar, que está sempre
presente no ser humano. Mas cada vez mais as empresas começam
a perceber que isso também é bom para os negócios."
"É bom para a imagem da empresa junto à
sociedade e junto à vizinhança. Melhora o relacionamento
com os empregados, com os fornecedores. Acaba trazendo benefícios
para as próprias empresas", afirma.
Para ela, a pressão da sociedade também tem
um peso. Peliano diz que cada vez mais se percebe que o governo
não vai resolver sozinho todos os problemas sociais.
Segundo ela, por isso as empresas perceberam que também
têm que dar sua contribuição.
De acordo com a socióloga, a curto prazo as empresas
vão investir mais nessa área. Ela afirma que
à medida em que o governo tiver êxito na sua
convocação à sociedade, mais as empresas
vão participar.
Mas, alerta, é um engano acreditar que o Estado deve
se sentir isento de seu compromisso com a sociedade. Segundo
Anna Peliano, quanto mais o Estado fizer, mais as empresas
farão.
DENISE TELLES
da BBC Brasil
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