O emprego
temporário no comércio para atender a demanda
de final de ano crescerá de forma significativa neste
ano em relação ao fraco ano passado por conta
da recuperação da economia. Nas lojas de shoppings,
a expectativa é de aumento de até 75%.
O que parece ser mais um bom indicador econômico esconde,
entretanto, uma má notícia. As lojas reduziram
muito os seus funcionários e agora precisam contratar
temporários para repor os empregos liqüidados.
Foram extintos 40 mil postos de trabalho na cidade de São
Paulo nos últimos quatro anos, considerando o mesmo
número de lojas.
Para repor parte dessas demissões, os lojistas estão
contratando temporários que ganham menos do que os
funcionários com carteira e impondo jornadas de trabalho
mais longas. Pior: eles não têm planos para que
os temporários sejam efetivados em 2005, segundo a
Folha apurou.
Os comerciantes de São Paulo devem contratar 35 mil
temporários -8,5% do total de empregos do comércio
na cidade- neste final de ano no município de São
Paulo. Isso significa 75% a mais do que em igual período
do ano passado, segundo levantamento do Sindicato dos Empregados
no Comércio de São Paulo. A Casas Bahia, por
exemplo, abriu na semana passada 2.000 vagas para temporários.
O grupo Pão de Açúcar, 6.000. O melhor
ano para o comércio de São Paulo foi 2000, quando
foram criadas 80 mil vagas temporárias no final de
ano.
Os lojistas de shopping centers estimam que serão abertas
70 mil vagas temporárias em 58.630 lojas espalhadas
por 572 estabelecimentos do país. Em 2003, foram criadas
40 mil vagas. Mas boa parte desse crescimento se deve à
abertura de 18 shopping centers no país. "Essas
vagas surgiram mais em função dos novos estabelecimentos
do que pela recuperação econômica",
diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (associação
dos lojistas de shoppings).
Na tentativa de reduzir custos e se tornar mais competitivo,
o comércio trocou empregos com salários mais
altos por mais baixos.
"No comércio, a maioria dos demitidos está
na faixa salarial de R$ 1.100 a R$ 1.200.
Já os contratados, na faixa de R$ 600 a R$ 700. Isso
ocorreu principalmente de junho de 2003 até maio deste
ano em todos as funções. Essa tendência
só foi interrompida porque o frio mais intenso melhorou
as vendas neste ano", afirma Ricardo Patah, presidente
do sindicato.
Segundo o sindicalista, a situação do emprego
no comércio só não é pior porque
os supermercados abriram mais lojas e multinacionais entraram
nas vendas de materiais de construção e produtos
de decoração e jardinagem.
Ganhando menos do que o trabalhador registrado e mais "precavido"
com o dinheiro no bolso, o empregado temporário vai
usar o salário para quitar dívidas e não
para consumir, segundo economistas consultados pela Folha.
"O temporário não vai fazer um crediário
nem torrar o salário em um mês se já sabe
que em janeiro não tem mais emprego. Por isso, o impacto
dessas contratações para a economia é
muito pequeno", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico
do Dieese.
"O emprego temporário não vai se sustentar
porque a recuperação da renda do trabalhador
e da massa salarial [soma de todos os salários dos
trabalhadores] é tímida", diz o economista
Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Ele cita como exemplo a massa de rendimento dos trabalhadores
ocupados na Grande São Paulo. Em janeiro deste ano
foi de R$ 6,13 bilhões. Em agosto foi de R$ 6,39 bilhões
-se manteve praticamente estável. Ou seja, apesar do
aumento do emprego, a massa salarial pouco se alterou.
"Para que o emprego temporário do final do ano
pudesse ser mantido no início de 2005, seria necessário
que essa massa salarial tivesse um crescimento de, no mínimo,
10% neste ano. A renda tem de crescer em um ritmo maior do
que o do emprego. Mas hoje não é isso o que
ocorre", diz Dedecca.
Na indústria
As contratações de temporários
na indústria foram mais concentradas no início
do segundo semestre, já que as empresas precisam se
preparar antes para atender as encomendas do comércio.
A estimativa é que o aumento foi de 4% a 5% sobre o
ano passado.
"As vagas temporárias na indústria ocorreram
principalmente nos setores sazonais, como bebidas e alimentos
[produtos natalinos]", diz Claudio Vaz, presidente do
Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo).
Contratos por tempo determinado também ocorreram em
setores que tiveram bom desempenho por causa das exportações
-caso das indústrias de automóveis e agronegócios.
A DaimlerChrysler (Mercedes-Benz) anunciou na semana passada
a contratação de 650 trabalhadores pelo prazo
de um ano para a fábrica de São Bernardo, onde
produz caminhões e ônibus.
No ABC paulista, a agência de emprego Adecco recebeu
nos últimos dois meses pedido das indústrias
para contratar trabalhadores temporários para o setor
de cosméticos e de embalagens.
"São vagas com base na lei nº 6.019, que
regula o trabalho temporário. O salário é
de R$ 550. Por dia, recebemos cerca de 40 candidatos interessados
em uma vaga temporária", diz Renato Frausto, gerente
de uma filial da Adecco.
A lei citada, de 1974, autoriza admissão de temporários
por aumento da produção e da demanda e em substituições
legais (férias e licença-maternidade).
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo
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