Ao lado
das pequenas empresas e das exportações, o setor
de exibição de filmesganhou status de prioridade
dentro das políticas operacionais do BNDES. Ontem,
o presidente do banco, Carlos Lessa, e o ministro da Cultura,
Gilberto Gil, anunciaram no Rio uma nova linha de financiamento
para a construção e a modernização
de salas de cinema com condições diferenciadas.
Entre elas, taxas de juros mais baixas e prazos mais longos
que os concedidos a grandes empresas de outros setores.
A Federação Nacional das Empresas Exibidoras
de Cinema (Fenec) estima que a nova linha injete no mercado
R$ 150 milhões no próximo ano.
" Com a abertura desse financiamento, estamos tentando
cobrir uma lacuna do setor. Somos um país que tem quase
seis mil municípios e apenas 290 deles têm salas
de exibição, o que dá uma presença
muito reduzida. A construção e a modernização
de salas de cinema passaram a ser incluídas como prioridade
nas políticas operacionais do BNDES", disse Lessa.
Máquina importada
Para a criação da linha, que não
tem uma dotação de verba definida, o banco teve
de fazer concessões importantes, segundo o presidente
da instituição. O prazo de carência para
o pagamento, por exemplo, subiu dos seis meses dados a outros
setores para 12 meses. Já a participação
do BNDES nos projetos vai até 90% do valor total, enquanto
em outros setores o percentual é limitado a 50%. O
custo financeiro será de 1% a 4% ao ano, mais Taxa
de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje em 9,75% ao ano.
O grande diferencial, no entanto, foi a redução
de R$ 10 milhões para R$ 1 milhão do valor mínimo
necessário para que os empresários possam solicitar
o financiamento diretamente ao banco, sem precisar recorrer
a agentes financeiros, que cobram spreads (taxas de intermediação)
altos. Além disso, o BNDES vai financiar equipamentos
importados — desde que não tenham similar no
país — o que contraria as políticas tradicionais
do banco. Os aparelhos importados representam cerca de 35%
do custo de implantação de uma sala de cinema.
"O banco está dando uma sugestão de política
cultural. Consideramos a possibilidade, muito longa e duradoura,
de cooperação do banco com o ministério
da Cultura", afirmou Gil.
A sócia-diretora do Grupo Estação, Adriana
Rattes, presente ao lançamento, comemorou. O grupo,
dono de 22 salas, das quais 17 no Rio, tem um projeto de expansão
de R$ 60 milhões em quatro anos para a construção
de 40 telas:
"Vamos aguardar mais detalhes sobre o produto, mas acreditamos
que o banco possa participar com até um terço
do total".
Luiz Severiano Ribeiro, diretor do grupo de mesmo nome, afirmou
que a linha vai ajudar o setor, mas ressaltou que o custo
poderia ser mais baixo:
"As notícias são boas, é um dia
para comemorar. Acho que a medida pode ajudar pequenos, médios
e grandes exibidores que terão acesso a um dinheiro
mais barato, embora no Brasil o dinheiro mais barato ainda
assim seja caro".
Segundo dados do Ministério da Cultura, hoje o país
tem 1.920 salas de cinema, e mais de 90% dos municípios
não oferecem essa alternativa de cultura. O negócio
tem potencial. De acordo com o site especializado Filme B,
o público de cinema no país foi de 89,1 milhões
de espectadores de janeiro a setembro deste ano — um
aumento de 14% sobre o mesmo período de 2003.
Segundo o presidente da Fenec, Ricardo Difini Leite, o setor
tem apresentado crescimento de 8% ao ano, com cerca de 150
a 200 salas sendo abertas por período. Ele estima que
a nova linha do BNDES impulsionará ainda mais o setor,
que deverá ter mais mil salas no fim de três
anos. O investimento dos empresários do setor este
ano foi de R$ 180 milhões.
MIRELLE DE FRANÇA
do jornal O Globo
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