Aumento
da temperatura global, furacões, secas e inundações.
O cenário que surge das previsões dos estudiosos
que acompanham as mudanças ambientais pelo planeta
não é dos mais animadores. E, eles alertam,
direta ou indiretamente, cada uma dessas alterações
climáticas terá profundo impacto sobre a saúde
humana.
Segundo o epidemiologista Carlos Corvalán, especialista
em saúde ocupacional e ambiental da Organização
Mundial de Saúde,o impacto maior será sobre
as populações dos países pobres. E deve
refletir e acentuar ainda mais as desigualdades sociais já
existentes. Corvalán esteve na terça, 19, na
Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, onde
deu uma palestra sobre o tema para alunos da Escola Nacional
de Saúde Pública.
“Não há como deter as mudanças
climáticas que já estão em curso e suas
consequências. Tudo o que se pode fazer é criar
estratégias de adaptação”, diz.
Ele explica como essa lógica perversa acontece. “Se
por um lado, os países ricos são os maiores
emissores de gases e também os maiores poluentes do
planeta, de outro, as nações que têm menos
recursos são também as mais vulneráveis
e com menos possibilidades de adaptar-se ao impacto provocado
por essas mudanças. E mesmo nestes países, serão
também os mais pobres os mais afetados”, diz..
Veja abaixo a entrevista concedida ao Viva Favela:
Quais as alterações climáticas
mais significativas neste último século?
A maioria dos trabalhos que se conhece são
feitos por membros de um Painel Internacional sobre Mudanças
Climáticas, espalhados em vários pontos do mundo,
e que se reúnem a cada quatro anos para fazer avaliações.
A década de 1990 foi a mais quente do último
século. Nestes últimos cem anos, o aumento da
temperatura global foi de 0,6 grau, o que já é
bastante significativo, mas ainda vai subir bem mais. As projeções
para este século apontam um aquecimento entre 1,4 a
5,8 graus, o que significa uma mudança bem mais rápida
do que a que ocorreu nos últimos dez mil anos. Essa
é apenas uma das várias alterações
que vêm ocorrendo no clima do planeta.
E que consequências esse aquecimento tem sobre
a saúde das pessoas?
Em certas regiões, essas ondas de calor às
vezes vêm combinadas com a contaminação
do ar, provocando problemas respiratórios e cardíacos.
Também nesses casos, devido às desigualdades
sociais, quem estiver em ambientes refrigerados certamente
será bem menos afetado por tudo isso. Pobres, idosos
e crianças sofrerão mais.
Além do aquecimento global, já em curso,
como será o panorama ambiental mundial que os estudiosos
estão prevendo?
Calcula-se que o nível do mar suba entre 9
e 88cm até 2100. Como consequências diretas,
haverá um maior número de furacões, inundações,
secas e serão ainda mais intensas as influências
de fenômenos como o El Nino. Também nesses casos,
são os países pobres que sofrem maior impacto,
particularmente as populações que vivem às
margens de rios, em lugares de risco. As conseqüências
indiretas, e também as mais complexas, são,
por exemplo, os prejuízos à lavoura, a fome
e a migração de populações rurais
para as cidades, onde passam por todo tipo de dificuldades
de adaptação. Deve-se incluir aí também
os danos à saúde mental que todas essas mudanças
podem trazer ao modo de vida dessas pessoas.
Neste quadro, o que se pode esperar em termos de
saúde?
Serão várias as conseqüências.
Desde a alteração na distribuição
de vetores por novas áreas geográficas, e as
possibilidades de mudanças no alcance de doenças
transmissíveis, até o ambiente favorável
a doenças que a combinação de umidade
e calor (provocada pelas ondas de calor e inundações)
pode criar. Tudo isso vai afetar mais diretamente as populações
que estiverem menos protegidas, menos imunizadas por vacinação,
por exemplo. E certamente afetará bem menos aqueles
que podem contar com uma boa infra-estrutura de saúde.
Com a queda da produtividade agrícola, da redução
dos recursos hídricos e sua contaminação,
acontece a mesma coisa. Uma vez afetada a produção
de alimentos, temos a longo prazo a desnutrição
das populações mais pobres e todas as doenças
dela decorrentes.
Tudo isso significa então um agravamento dos
problemas que já se vive hoje?
Atualmente, 1/3 da população mundial
vive em países onde há escassez de água,
2,4 bilhões de pessoas não contam com serviços
sanitários; enquanto outros 2 bilhões vivem
sem energia elétrica. Cerca de 4% das enfermidades
se relacionam com problemas de falta de água potável,
saneamento básico e higiene, enquanto 3% do total de
doenças resultam de contaminação do ar.
E nos próximos 30 anos, será preciso alimentar
mais 3 bilhões de pessoas.
O que se pode fazer para minimizar os efeitos dessa
situação?
São situações possíveis
de se prever, mas impossíveis de se deter. Podemos
é tentar nos adaptar a estas mudanças. Para
isso, é preciso que se façam análises
para avaliar o impacto delas em cada região, informar
aos diversos setores, principalmente aos responsáveis
pela tomada de decisões, sobre a importância
de se pesquisar, avaliar a vulnerabilidade das diversas populações
e estudar a criação de estratégias de
adaptação, que serão necessárias
em todos os níveis. Cada país deve fazer suas
avaliações, identificar os problemas e traçar
suas políticas.
As informações são
do site EcoPop.
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