Maximilien
Calligaris,
enviado especial
NOVA YORK- Desde a invenção da televisão,
os especialistas começaram a avisar que um dia a mídia
eletrônica acabaria com a leitura. No outono americano
passado, a National Endowment for the Arts (Fundação
Nacional pelas Artes) apontou um declínio de pontuação
no teste de leitura entre os adolescentes. O relatório
afirmou que, em 2004, apenas pouco mais de um quinto dos jovens
de 17 anos leu por prazer. Em 1984 o índice era de
um terço. Inversamente, em 2004, 19% dos adolescentes,
desta mesma faixa etária, afirmou que eles não
lêem nunca ou lêem raramente por prazer. Em 1984,
davam essa resposta apenas nove entre cem.
É claro que, na era digital, os jovens passam mais
tempo na Net do que lendo no papel impresso. A Kaiser Family
Foundation relatou que o tempo médio do americano surfando
na internet passou de 46 minutos, em 1999, para uma hora e
41 minutos, em 2004.
Será que a leitura online substitui a leitura no papel?
E será que os conhecimentos adquiridos nos dois casos
se equivalem ou se compensam?
O declínio nos resultados do teste parece dizer que
não. Imagens, animações, vídeos
e sons interferem na capacidade de se concentrar por um período
de tempo prolongado, comprometendo talvez um dos benefícios
do hábito da leitura, sobretudo se ele for estabelecido
na adolescência: a capacidade de focar a atenção
com uma certa duração.
Por outro lado, não há como negar que a internet
criou um novo tipo de leitura e de leitores. Usar web exige
algum tipo de interesse pela leitura, mesmo que você
esteja apenas “googlando” ou participando de um
blog.
Alguns especialistas dizem que a leitura online deveria ser
levada mais a sério pelas escolas e pela sociedade
em geral. É uma atividade que pede uma competência
que poderia ser avaliada, assim como se avalia a compreensão
de texto. Há crianças disléxicas ou com
outras dificuldades de aprendizado que acham bem mais acessível
e confortável a leitura online, e, nesses casos, a
longo prazo, isso ajuda sua capacidade de leitura em geral.
Uma pesquisa mostrou que dar acesso à internet a estudantes
de baixa renda ajuda no resultado de testes de leitura no
papel impresso.
Talvez a palavra conclusiva seja que, mesmo se ler um livro
é mais enriquecedor, ler online também significa
ler, e é uma atividade que estimula crianças
que, sem isso, não conseguiriam dar a leitura nenhum
instante de seu tempo livre. Além disso, a realidade
do dia é que as novas gerações se comunicam
por imagens e sons muito mais do que as anteriores, e o livro
é apenas um dos canais pelos quais a informação
chega até nós.
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