Três municípios do Piauí, um dos Estados
com os piores índices educacionais do Brasil, passarão
a ter nos próximos meses turmas de alfabetização
de jovens e adultos com o método adotado em Cuba. É
o que prevê um protocolo de cooperação
assinado ontem pelos ministérios da Educação
dos dois países durante cerimônia realizada em
Brasília.
Segundo o ministro da Educação, Tarso Genro,
o método cubano permite a realização
do curso à distância -o que seria o diferencial
em relação ao programa brasileiro- e trabalha
com situações da cultura local.
"O programa tem um custo menor. Permite, por exemplo,
que seja montada sala de aula na casa das pessoas", disse
Tarso, citando que o curso pode ser ministrado por meio do
rádio.
Meta de 20 milhões
No Brasil, os cursos do governo federal de alfabetização
de jovens e adultos são presenciais, com os alunos
em salas de aula.
O programa Brasil Alfabetizado, lançado no ano passado
pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, com a meta
inicial de alfabetizar 20 milhões de brasileiros, exige,
por exemplo, oito meses de aula. Aceita, porém, o uso
de vários métodos pedagógicos, dependendo
da região e instituição que ministra
o curso.
O protocolo assinado ontem prevê que o Ministério
da Educação de Cuba repassará para os
municípios assistências técnica e material,
além da experiência pedagógica. Segundo
Tarso Genro, não haverá custo.
O projeto vai funcionar, por enquanto, de forma piloto em
três municípios do Piauí, sendo um de
pequeno e outro de médio porte. O terceiro ficará
na periferia de uma grande cidade.
Reunião da Unesco
O documento final da 4ª Reunião do Grupo de
Alto Nível de Educação para Todos, que
terminou ontem em Brasília, faz uma cobrança
dos países quando trata de recursos financeiros. Diz
que eles "devem aumentar e diversificar os recursos locais
e fortalecer o uso eficaz e eficiente das verbas" destinadas
à educação, além de ter um "orçamento
equilibrado" para que as Metas do Milênio ligadas
ao setor sejam cumpridas.
A ministra da Cooperação da Suécia, Carin
Jämtin, pediu mais transparência na aplicação
dos recursos na área de educação. Disse
ainda que os países em desenvolvimento têm espaço
para aplicar recursos próprios no setor.
Um dos temas principais da reunião organizada pela
Unesco, as Metas do Milênio foram instituídas
pelos países-membros da ONU (Organização
das Nações Unidas) em 2000 e devem ser atingidas
até 2015. Visam a erradicação da pobreza,
a diminuição das desigualdades e o desenvolvimento
dos países.
Financiamento
O documento também trata da necessidade de desenvolver
mecanismos de financiamento que atendam às características
dos países, inclusive a troca de parte dos serviços
da dívida por educação -uma proposta
feita por Brasil e Argentina e apoiada pela Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura).
Para o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, outro ponto
importante do documento final, chamado de Declaração
de Brasília, é o que trata da necessidade de
qualificação dos professores.
Entre as preocupações estão a qualificação
dos docentes e a melhoria da proporção aluno-professor.
Enquanto o ideal seria de um docente para cada três
habitantes, há países em que essa proporção
é de um a cada 60.
LUCIANA CONSTANTINO
da Folha de S.Paulo
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