Heitor
Augusto
Desde o sábado, 11, os moradores
de Heliópolis, maior favela de São Paulo, puderam
ouvir novamente o bordão “Rádio Heliópolis,
a sua rádio verdadeiramente comunitária”.
Com uma licença que a permite operar em caráter
experimental, a emissora voltou a transmitir, em nova freqüência,
87,7 FM.
A rádio foi fechada em 20 de julho do ano passado
pela Polícia Federal, que cumpriu mandato de busca
e apreensão, acompanhada pela Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações). Criou-se um problema
político: "como uma rádio com status de
Ponto de Cultura, concedido pelo governo federal devido ao
trabalho com a comunidade, é impedida de transmitir
por ser considerada ilegal pelo Ministério das Comunicações?"
A brecha, proposta pela Anatel dois dias após o fechamento,
foi encontrar uma universidade para entrar como parceira e
a rádio passaria a operar em “caráter
experimental para fins científicos”. A Universidade
Metodista topou a empreitada.
Há mais de oito anos a Heliópolis tenta conseguir
a outorga do Ministério das Comunicações
para operar como rádio comunitária. Após
anos de pressão de associações de radiodifusão,
o Ministério das Comunicações publicou
no início deste ano Aviso de Habilitação
para a cidade de São Paulo – uma espécie
de chamamento para que as emissoras enviem a documentação
solicitando regularização. Os processos estão
em fase de análise.
15 anos de história
Desde 1992 a emissora marca presença na comunidade.
O início foi bem mais humilde. “A rádio
nasceu da luta dos moradores por moradia no final dos anos
80. A comunidade estava passando por um período de
mutirão, precisava chamar esse povo para as reuniões”,
conta Geronimo Barbosa, o Gerô, coordenador da emissora.
A favela de Heliópolis é resultado de uma ação
da prefeitura que no início dos anos 70 transferiu,
provisoriamente, 60 famílias de bairros vizinhos. Em
2006, contabilizava-se quase 120 mil habitantes.
Hoje, 15 anos depois de fazer a transição de
rádio poste para as ondas de Freqüência
Modular (FM), a rádio mantém o mesmo foco do
início: cidadania; direitos e deveres; informação.
A equipe que fazia as transmissões antes do fechamento
recebeu o reforço de mais 12 jovens que participam
da oficina de rádio do projeto Vaia, em parceria com
a Prefeitura. “A gente está incorporando na programação,
aos poucos, os novatos”, explica Claudinha Neves, locutora
e líder das oficinas.
Claudinha participou dos dois momentos mais marcantes da
história da Heliópolis no último ano:
fechamento e reabertura dá rádio. Em julho
de 2006, aos prantos, argumentou com os agentes da PF:
“Somos rádio comunitária, não pirata!”
No sábado, só houve espaços para lágrimas
de alegria. “Foi emocionante voltar a transmitir”,
garante.
Links relacionados:
“Rádio
Heliópolis, a rádio verdadeiramente comunitária”*
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