Julia
Dietrich
especial para o GD
"Vivemos numa situação de genocídio
de jovens; os números apontam para o caos. Vivemos
numa situação pior que a do Iraque. Lá
a carnificina faz sentido, pois é uma briga por território,
poder e petróleo. Aqui, vivemos uma violência
automatizada que criminaliza erroneamente um segmento da sociedade,
mas é impossível encontrar argumentos racionais
que justifiquem essa barbaridade." A colocação
é do professor aposentado da Faculdade de Filosofia
da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do
projeto pedagógico da Escola Nacional Florestan Fernandes,
Paulo Arantes.
Segundo, ele o estado de emergência atual pressupõe
um momento revolucionário, mas nunca esteve-se tão
longe de uma possível revolução. A transformação
não faz parte do imaginário e da sensibilidade
da agenda da humanidade. "Valoriza-se o sistema econômico
do leste Asiático, que está completamente inserido
no sistema capitalista. A China faz parte da OMC, não
tem um modelo heterodoxo como falam por aí," aponta
o pesquisador que vê a construção do modelo
de trabalho capitalista como uma das grandes causas da violência
mundial.
Arantes afirma que a humanidade está administrando
um desastre de 50 anos atrás, quando com as duas grandes
guerras e a Europa devastada, o capitalismo deixou de ser
auto-gestionado e passou a receber a intervenção
do Estado e elaborar um plano de emergência que retardasse
o fim. "Privatizaram então, as políticas
sociais, modelo reproduzido exaustivamente no Brasil,"
diz.
Para ele, as políticas públicas ou sociais,
ainda que completamente imobilizadoras, fazem sentido, pois
o futuro só tende a piorar. "Mas, é preciso
observar que o Brasil funciona dessa maneira imóvel.
É um país com 25 anos de estagnação
que elegeu um presidente que veio da classe trabalhadora e
que, hoje, como governo, aprova e legitima as políticas
públicas apreciadas pelas classes dominantes, ações
que servem para retardar a conclusão."
Como prova de sua teoria, Arantes insiste que é preciso
observar que o epicentro da calamidade dos jovens está
no fato de que os mecanismos da sociedade de trabalho não
funcionam mais e que o tráfico vem como uma escolha
de "proletarização" em escalas inimagináveis.
"Mas, não é lá que é construída
a violência. O mundo do trabalho é um laboratório
para a criminalidade social. É lá que somos
amestrados para sermos agentes dessa violência. A causa
está bem demonstrada na própria construção
violenta e hierarquizada das corporações, reafirmadas,
inclusive, pelos governos," conclui o professor, que
embora declare seu pessimismo, acredita e fomenta a possibilidade
de transformar, um dia, a realidade dos jovens e da sociedade.
|