Heitor
Augusto
É equivocada a noção de que a cidade
é feia e precisa ser embelezada. Nosso olhar está
acostumado a observar São Paulo com uma lente angular
– que dá uma visão panorâmica, mas
não percebe as particularidades. Mais importante que
“feio” e “bonito” é a população
interagir com a cidade.
Essa é a conclusão a que chegaram um artista
plástico, um fotógrafo e um designer que se
reuniram terça-feira, 14, no Sesc Pinheiros para discutir
como o intelectual pode intervir na formação
de um olhar positivo na cena urbana.
Chamar um artista para intervir na cidade não é
garantia de bom gosto. “A melhor da criatividade artística
não vem da galeria, mas do povo”, afirma Marcello
Dantas, curador e designer de exposições. Enxergar
a poética de São Paulo em detalhes do cotidiano
é um dos objetivos do fotógrafo Iatã
Canabrava, autor do trabalho “Uma outra cidade”.
Nele, Canabrava retrata particularidades do cotidiano da periferia:
carros velhos, costas tatuadas, músicos, jovens grávidas,
muros grafitados. “Mau gosto impera em todas as camadas
sociais, assim como imperam fórmulas do caótico
que geram imagens incríveis”.
O ponto principal na reflexão ao olhar São
Paulo não é classifica-la como bonita ou feia,
mas fazer com que a população sinta-se pertencida
à cidade. “A questão é fazer como
as pessoas vivam a cidade, não só passear por
ela. A percepção de interagir é o mais
importante”, avalia Danilo Oliveira, curador da exposição
“A conquista do espaço – novas formas da
arte de rua”, em cartaz no Sesc Pinheiros.
Lei Cidade Limpa
Nenhum dos três artistas contestou que a Lei Cidade
Limpa ajudou a população a perceber fachadas
que há muito estavam escondidas. Mas, quando a discussão
é sobre a intensidade das medidas tomadas pelo poder
público, a concordância de opiniões sai
da paisagem do debate.
“Ela é importante porque fez com que o debate
fosse levantado. Há dois anos, seria impensável
nos imaginarmos falando sobre tirar outdoors da cidade”,
afirma Dantas. O fotógrafo Iatã discorda da
intensidade da restrição. “Sou contra
qualquer radicalismo”. Daniel, que além de curador
é integrante desse grupo de artistas, intitulado de
Base-V, protesta contra as manifestações de
arte pública que foram afetadas pela Cidade Limpa.
“Os muros com grafites também estão sendo
cobertos”.
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