|
"Envie
um torpedo para o número 4000 e doe R$2,00 às
vitimas do Tsunami". É mais ou menos esta a mensagem
que o usuário TIM recebeu em seu celular ou que pôde
ainda visualizar em um pop up no site da operadora de telefonia
móvel. A campanha "Ajuda sem Fronteiras"
foi lançada no dia 30 de dezembro de 2004 e até
a manhã do dia 13 de janeiro o número de torpedos
(mensagens de texto via celular ou sms – short message
service) com a palavra "ajuda" chegou a mais de
160 mil: "uma média de 10 torpedos por minuto
para a campanha que segue até o dia 15 de janeiro",
avisa a assessoria de imprensa da empresa. O valor, que deve
facilmente alcançar R$350 mil, será auditado
e então repassado à ONU - Organização
das Nações Unidas e à Cruz Vermelha Internacional
pela empresa de auditoria Deloitte, que acompanhou toda a
campanha voluntariamente. O cuidado, segundo a assessoria
de imprensa, é uma "forma de garantir a transparência
do processo".
A idéia parece ter sido inspirada na produtora americana
de conteúdo para celular ZapToPhone que, em parceria
com a operadora canadense Bell Mobility, está vendendo
ringtones (toques de celular) com os temas: Thailand National
Anthem (US$2,00); India National Anthem (US$4,00); Sri Lanka
National Anthem (US$6,00); e Indonesia National Anthem (US$9,00).
O dinheiro arrecadado será doado para a Canadian Red
Cross Asia Earthquake and Tsunamis Relief Fund, a Cruz Vermelha
do Canadá que está dando suporte às vítimas
da tragédia acontecida na Ásia no final de 2004.
Se até há alguns anos, com o boom da Internet,
víamos como novidade fazer doações usando
essa nova mídia (quem não se lembra dos clássicos
clickfome, clique leite, clickárvore etc), hoje a telefonia
móvel tem se mostrado extremante eficiente no quesito
solidariedade: "ação social realizada por
meio de celular é tendência, uma vez que hoje
temos mais de 60 milhões de celulares no Brasil e esse
número deve chegar a 100 milhões até
o final de 2005", destaca Andreas Blazoudakis, presidente
da Yavox Latin America, integradora de soluções
para o mercado de transmissão de dados por telefonia
celular, que também deve lançar nos próximos
dias campanha direcionada às vítimas da Ásia:
"ainda precisamos definir qual a operadora que trabalhará
conosco nesta ação", explica o presidente
da Yavox.
Mas esta não será a primeira ação
social por meio de celular feita pela empresa: "entre
2001 e 2002 fizemos uma expedição pelo litoral
brasileiro chamada Mobile Adventure Tour que tinha um cunho
ambiental e ecológico... durante a viagem, os tripulantes
enviavam notícias para os 10 mil cadastrados e interessados",
elucida Blazoudakis. Mas a expedição, que teve
como objetivo identificar e estudar golfinhos e baleias do
litoral nacional e contou ainda com o apoio das empresas de
telefonia celular Telemig e Amazônia, foi apenas a primeira
ação da Yavox. No final do ano passado, a empresa
trabalhou com o SBT no projeto Teleton, que recolhe doações
para a AACD - Associação de Assistência
à Criança Deficiente: "disponibilizamos
5 números que foram usados para interagir e chamar
a atenção do público além de receber
doações de R$1,00 via torpedo", explica
Blazoudakis.
Toques solidários
Outra operadora nacional de telefonia móvel que também
permite doações em dinheiro via celular, em
parceria com o Banco do Brasil, é a Oi: "clientes
do Banco do Brasil, que já podem fazer operações
de banco via celular desde 2003, encontram um ícone
no navegador do celular para doação de qualquer
valor para a campanha federal Fome Zero", explica a assessoria
de imprensa da operadora. A operadora Vivo-RS, em parceria
com o Hemocentro do Rio Grande do Sul, está usando
o torpedo na campanha "Mensagem Solidária":
"O cliente VIVO Pós e Pré-pago cadastra-se
no site www.hemocentro.rs.gov.br e quando o Hemocentro precisa
de um determinado tipo de sangue, o doador é avisado
por meio da 'Mensagem Solidária', além de mensagens
de estímulo para doações voluntárias",
explica a assessoria de imprensa da Vivo-RS lembrando que
contam com cerca de 1.600 clientes cadastrados. De acordo
com dados do Hemocentro, a campanha, que está no ar
desde agosto de 2004, aumentou em 40% a doação
voluntária, sendo que o retorno dos doadores é
de 10%.
Já a desenvolvedora de produtos e serviços
para telefonia móvel e fixa, Tellvox, está promovendo
uma ação social de forma mais parecida com a
da americana ZaptoPhone. Por meio do site Ligaki o usuário
pode baixar (fazer download) para seu celular wallpapers (imagens
para tela de celular) que custam R$3,40 para clientes da operadora
Vivo e que terá parte do valor arrecadado doada para
a Casa Hope, instituição que apóia crianças
com câncer. São mais de 20 opções
de wallpapers assinados por personalidades como o carnavalesco
Joãozinho Trinta, a arquiteta e decoradora Esther Giobbi,
a também decoradora Ruth Mendonça de Barros
e a arquiteta Brunete Fraccaroli que doaram suas telas à
instituição.
A idéia, segundo a assessoria de imprensa da Tellvox
é também disponibilizar em breve ringtones com
jingles de artistas famosos que doaram seus direitos autorais
para a Casa Hope: "O celular é um novo meio de
distribuição de conteúdo e entretenimento
para o público jovem. Estamos preocupados em conscientizar
e envolver os jovens em causas sociais", explica Leonardo
Xavier, diretor geral da Tellvox. A empresa também
busca novas parcerias com outras ONGs e instituições
para usar o celular como meio de divulgação
destas organizações e arrecadar fundos para
suas causas.
Solidariedade do futuro
As idéias para as mais variadas formas de ações
sociais por meio de celular parecem estar apenas começando,
segundo o presidente da Yavoxx: "o celular é o
aparelho da convergência digital e muito poderá
ser feito ainda como, por exemplo, o usuário enviar
um torpedo-doação e receber uma foto em agradecimento,
tudo via celular", explica Blazoudakis destacando que
o Brasil faz cerca de 100 mil transações via
celular por ano: "o mercado brasileiro é muito
parecido com o europeu que já faz 1 bilhão de
transações via celular por mês! Ou seja,
o mercado para esse tipo de ação solidária
deve crescer muito no nosso país", completa.
O gerente de comunicação estratégica
da empresa desenvolvedora de tecnologia móvel Compera,
Paulo Henrique Ferreira, concorda: "a penetração
de celular no Brasil é grande e as operadoras precisam
descobrir que é possível fazer ações
sociais com o terceiro setor que sejam auto-sustentáveis
e ainda gerar receita", conclui o gerente de comunicação
e também um dos organizadores do projeto "Rede
Pipa Móvel", que faz parte do projeto "Rede
Pipa Sabe" - uma iniciativa do programa "SPiN -
Engenho de Redes" (da Cidade do Conhecimento, USP–
Universidade São Paulo) associado ao programa GESAC
(Ministério das Comunicações e Ministério
da Educação), SEBRAE-RN, UFRN.
Neste projeto que começou há um ano e que
tem como objetivo desenvolver a região e a comunidade
da praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, por meio de capacitação
de moradores para o turismo, foram instalados, numa primeira
fase, diversos telecentros a fim de colocar os moradores locais
em contato com tecnologia da informação: "parece
incrível, mas até mesmo os filhos dos pescadores
tem seu próprio celular", entusiasma-se Ferreira.
Ainda dentro do projeto, são promovidas o que chamam
de "ondas" temporadas de eventos que mostram a cultura
local como segredos da culinária regional, oficinas
de barco de pesca, teatro de damas, literatura de cordel,
apresentação da dança de capoeira Coco
Zambê, entre outros, justamente com o objetivo de preservar
e valorizar esta cultura local. Os eventos são pagos
com uma moeda complementar criada e estudada pela equipe da
Cidade do Conhecimento chamada Garatuí.
O próximo passo será colocar em prática
um projeto piloto que usará os celulares como intermediário
entre o "Rede Pipa Sabe" e os cerca de 400 mil turistas
que visitam a região por ano: "Num primeiro momento
os visitantes devidamente cadastrados quando chegam à
Pipa são avisados via SMS que os eventos que escolheram
irão começar, além de receberem por celular
outras dicas da programação", explica Ferreira.
"A idéia é mantermos este projeto e expandi-lo",
completa o gerente de comunicação lembrando
que dentro do projeto existe ainda a idéia de vender
o que ele chamou de "souvenirs móveis", como
ringtones com a música do Coco Zambê e fotos
do local: "o turista poderá levar uma lembrança
e ainda contribuir para a geração de renda local
e incentivo turístico", diz. Segundo Ferreira,
jovens interessados da comunidade serão capacitados
para criarem as lembrancinhas digitais. Mas o projeto não
pára por aí. O gerente de comunicação
acredita que já em 2006 conseguirão implementar
m-commerce (móbile commerce ou venda por celular):
"o objetivo é fazer circular o Garatuí
via celular, ou seja, o aparelho será uma espécie
de cartão de crédito que o turista poderá
usar durante sua estadia na praia de Pipa", garante.
"Preparem-se! O celular vai se tornar uma moedeira virtual",
concorda e completa o especialista em telefonia móvel
e presidente da Yavox, Andreas Blazoudakis.
LISANDRA MAIOLI
do site setor3
|